Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA DÁ ACADEMIA PARAENSE DE L~RÁS Essa espécie de aristocracia intelectual pareceu não agradar muito ao Parlamento, cioso d'.l conservação de seus privilégios, que passou dois anos a protelar o registro do futuroso círculo intelectivo, até que, por fim, se dobrou à vontade indomável do inesquecível ministro. E assim se fundou a Academia Francesa. Dell-lhe êste nome a recordação de Academus, personagem lendário da Gréci:l antiga, contemporâneo de Thes·eu, o vencedor do minotauro. Academus doara à República extenso terreno, em cujas alamedas, orladas de plátanos e oliveiras, 430 anos antes de cristo. Platão, passeando de um 13do para outro, dava aulas de filosofia. Os acadêmicos eram chamados "imorhis" e só podiam ser admitidos mediante solicitação escrita. A votação era feita por meio de bolas brancas e pretas. Para a vitória do candidato, havia mistér que as primeiras, pelo menos em quatro· ,excedessem às segundas. A Academia tinha um diretor, um chân– celer e um secretário, êste eleito perpetuamente. O titulo de imortal era uma espécie de sacramento, o qual, uma vez atribuído, nunca mais poderia ser retirado. Ascendendo ao trono Luiz XIV, o novel grêmio de cultores da inteli– gência sofreu impulso de monta . O soberano reivindicou para a corôa o direito de proteção perpétua à Academia, no que foi seguido, religiosamente, por todos os seus sucessores. Deu-lhe sede especial e mobiliário, passando os imortais a receber, por sessão a que comp3reclam, o "jeton" de presença, que lhes facul– tava, àquela época, a posse de 1.200 francos anuais. 1:sse "jeton" era uma me– dalhinha de prata, idêntica às plac3s de metal, numeradas, hoje vistas nos Bancos e outros estabelecimentos. E assim viveu por largo tempo, mais de um século, essa espécie de centro de altos estudos, onde se fazia a seleção do intelectu11llsmo frlncês. Com O ad– vento da Convenção Nacional, · a Academia foi capitulada de nociva ao inte– rêsse público, e extinta por um decreto. Rest'.lurada a monarquia não mais teve colápsos em .sua marcha . Não havia honra maior para os homens do pen– samento que ser um dos quarenta da Academia, cuja fama se lrrdiou pelo mundo em fora. Entretanto, a política sempre lá reinou, e muito talento foi pôsto de lado, e muita mediocridade foi admitida. O mnechal duque de Saxe, herói de Fontenoy, fidalgo de poucas letras, que entrou para a célebre insti– tuição sem nunca pronunciar o discurso laudatório ao patrono escolhido, dizil a alguns amigos : "C'est pas ma faute, voyons. On m'a invité. On a même insisté. Je suis entré, mais je comprends pas ces choses lá". Piron, o conhecido e notável sarc'.lsta, fez várias tentativas para ingressar à Academia e sempre sem resultado, e antes de morrer, pediu lhe mandassem gravar no sepulcro o seguinte epitáfio : "Ci git Piron, qui, toute sa vie, ne fut rien, pas mênte académlcien". Os imortais, durante as ,sessões, sentavam-se em cadeiras comuns, ape– nas o diretor tinha uma, de braços. Umá ocasião, o Cardeal Destrée, sentindó-se doente, requereu lhe permitissem mandar para o recinto uma poltrona, onde, mais a cômodo, pudesse estar, no que foi atendido por seus pares. Luiz XIV ao saber disso, enviou à Academia quarenta poltronas Iguais. Tal a origem do ambicionado "fauteuil" acadêmico, por cuja posse muita gente se batia, fôsse peh distinção, fôsse pelo "jeton" consolador. Quando a letrada Cristina, rai– nha da Suécia, visitou a Academia, numa época em que era rigorosa a obser– vância da etiqueta, ninguém podendo sentar-se, sem prévia licença, de3nte dos mon_arcas, os acadêmicos sentaram-se, colocando, porém, as poltronas a uma cert:i distância da mesa. Em 1872, D . Pedro II. o nosso sábio imperador, Indo à Academia, viu o fato repetido. Entre nós, brasileiros, foi em -1721, há mais de dois séculos, que surdiu a primeira Academia. Denominava-se ela dos "Esquecidos" . Alexandré Mésse.der, em seu formoso livro "A L!ngua e a Nacionalidade", acredita que a Academia,

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