Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA DA AÓADEMÍA .P.mAENSE DE . LETRAS --41 -~-----..;.;..;....;,;;.;~~;;;;;;,;~;;;.:...;:..:=:=:.:.:::.....:::.::...::::.;.:=.:;:____ ~ DISCURSO DE POSSE ORLANDO LIMA Em sessão solene realizada no Teatro da Paz à noite de 17 de mnio de 1941 ao tomar posse da cadeira n. 18, "Gaspar Viana", o nosso saudoso confrade Orlando Lima pronunciou o seguinte discurso · "Foi senhores, entrado de receio: quase pertranzido, n ão me corro de o confessar aqui, de público - que vi recair sôbre mim o laurel do vosso aprêço, quando, sem voz al~ma desconcorde, sufragastes o meu nome para a ocupação de uma de vossas poltronas vacantes. · Revereis de me ·tomar a bem, por sem dúvida, tamanha tibieza e tanto acanhamento, qu:mdo souberdes que, uma e outro, resultaram do exame que fiz da própria consciência. Na minúcia da a uto-anãlise - assevero sem vacila– ção - n ão apurei merecimento de polpa, capaz de me faculta r , dentro das linhas sôbre as quais age o vosso grêmio, as al~grias da vossa conviv~ncia, neste templo ofici!!l de intelectualidade, aonde viveis, conchegados por idênticas sim– patias, a traídos p~la afinidade da mesma predileção. De mim para comigo eu disse, entanto, justificando-me a atribuição da honrari!I, que não é somente de esclarecidos arquitetos e h ãbeis operãrios, que se aguarda o vulto ou a suntuosidade da obra. Místér se faz, se não dispense nunc.1, o concurso do trabalhador humilde e desconhecido, êsse que, acurvado e paciente carrega a~ · dorso, suarento e cheio de poeira, as peras pa ra os ali– cerces, dos quais depende a silidez da edificação. :11:le supre, com o seu esfôrço, aquilo que lhe faléce em valia e realce. Quizera ser, entre vós, êsse obreiro anônimo. Se dêste geito encarardes a minha presença entre vós, h averei sempre de .me sentir bem ao vosso lado, coparticipe fiel da vossa sorte, assim no triunfo como na decepção, e o meu re– conhecimento para convosco n ão encontrarã empêços que lhe atenuem ou mo– difiquem a sinceridade. Minhas senhoras é m eus senhores. Foi há pouco mais de trezentos a nos que em Paris tinham . o vêso de reunir-se dez homens, regularmente, em casa de um dêles, tôdas as seman~s. Letrados na totalidade, ali discreteavam sôbre assuntos vãrlos : arte, ciências, literatura, filosofia. . . Trocando idéias, avisos e conselhos, longe dos acúleos da invidência da época, abrigados sob o velãrio cômodo da obscuridade, viviam em perfeita paz, como no seio de Abrahão. Seus trabalhos eram lidos em comum e O lema era : - "Todos por um e um por todos". _Anos a fio essas p ãlreas e tertúlias se fizeram, assim, na Intimidade, no recanto do la r. Depois foram conhecidas lá fora, e .tanto, que chegaram aos o~vidos ~e _Richelieu~ ~ grande cardeal, ministro de Luiz XIII, o qual mandou vir até s 1 esses cultores do pensamento, signific~ndo-lhes ~ propósito em · que e~tava de ?S reunir em sociedade, sob a •prot eção do govêrno. A França have– ria _de ~e impor ao .conceito universal, não só pela potência de suas armss, sena~ ainda, e melhor, pela rutilância do intelécto de seus filhós. As qúestôes de linguagem deveriam de ser ·dirimidas p ela instituição. Era no tempo em que 0 ssber lêr ou escre.ver repugnava à a lta nobreza, que retributa largamente a quem por ela isso o fizesse. Cada qual deveria conh ecer a m aneira, p ela qual transmitisse ao papél as suas idéias de um modo cllro a accessível a todos . A associação estimularia por certo, à ' quantos se quizessem afastar do cultivo do espir~to, de geito, talvez, a não ascenderem a posições elevadas sem claudicar na reõaçao de um simples bilhete congratulatório.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0