Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953
~8 REVISTA DA ·ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Do"is Poemas GEORGENOR FRANCO Cadeira n . 38 - Luiz Tito Franco de Almeida MINHA FILHA Nove meses de esperanças malogradas ... Nove meses de anseios, de sonhos, de ilusões ... E num minuto - como é curta a vida ! - o desmoronamento de todos os castelos e a ruína, brutal, tremenda, de todos os anelos. · Não choraste, minha filha ! Nem teus olhos se abriram para o mundo. Nada viste, mas sofreste - e eis a causa do meu pranto. Esperei-te entre lágrimas. Minha ânsia era feita de soluços. E até quando te vi, alucinado de alegria e crendo-te com vida, solucei de alegria e chorei de emoção. A lágrima não é somente a dor desfeita em prantos. A lágrima é o símbolo das alegrias puras · c)"iàdas ·pelós ho~eiis e abençoadas por J esús. Serias o sereno repouso de tantos desenganos é ·a realização ·material, objetiva, sonhos de venturas, castigados sempre pela cruel realidade de desenganos dolorosos. Sem dúvida, eras pura demais para um mundo tão máu. Serias jeliz pelo meu amor maior que a alma de Santíssima. Mas ... quem sabe? Quem nos 'dira que não sofrerias tanto ? Somente o meu amor e o amor 'de tua mãe - a mártir sem consôlo nesta hora tremenda de suplícius resignãtórios e confortadores - não faria a felicidade de todo o teu destino. O mundo está tão máu, os homens tão perversos, a existência tão ma– que Deus traçou o teu .destino negando-te a vida. Não olhaste a luz nem a poesia cintilante das estrelas. '. Nasceste entre gritos de angúst_ia de um heroísmo de mulher e a alegria lilaz do pai que não beijaste. Tão grande, tão infinita, ilimitadíssima, [õrasta, era a minha fé no milagre da ressurreição que me esqueci naquele instante de mim, do amor, do mundo, de Jesús. Sim, tu eras tudo isso, tu representavas o milagre da vida que supliciou Maria Santíssima em três horas tremendas de agonia. Minha filha, eu te abençôo com a alma desfolhada em. pranto. E me curvo, humilde, respeitoso, resignado, aos pés de Deus. Belém; 1 de·i~verei,ro de ·1951. · .J • •I•
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