Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

~VISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS O POETA A poética de Bezerra de_. Albuquerque é apenas uma revelação do poeta que êle poderia tê,:· sido, se . continuasse-.- · Para ··tal não.. lhe..falta"vam estro e Imagi– nação. 1:le, porém, não foi além daquilo que classlflcou de "ensaio poético", to- , mando a palavra ensaio na sua !ldlma significação, multo lon11:e do sentido que hoje se lhe atribu i. Depois da publlcação da LYRA DAS SELVAS, quando o poeta contava 24 anos de Idade, quebrou, definitivamente, a lira, ao Invés de dependu– rá-la do salgueiro clássico. Teria contrlbuido para Isso a critica acerba de Vi– lhena Alves ? o que afirma vam os contemporâneos de Bezerra é que ela assinalou um momento decisivo. na sua formação espiritual. Foi daí que êle começou a se · dedicar com afinco aos estudos de português e das ciências, vindo a ser, mais tarde, o emérito polígrafo que todos nós sabemos. Bezerra mesmo, ao que parece, reconheceu, depois, o demérito de .suas pro1:luções poéticas, tanto que era com vlsfvel constrangimento, aflrmám, que ouvia se fazer rererê'llclas à LYRA DAS SELVAS, che11:ando a pedir até que não se falasse mais nisso". Todo exemplar que conseguia colhêr à mão, Incinerava-o. Hoje existe apenas, no que se saiba, um em poder de sua filha Belatrlz, que recebeu de mão amiga, depois da morte do Mestre e conserva como reliquia sagrada para o seu amor flllnl. As produções que constituem a LYRA DAS SELVAS estão divididas TOCANTINAS SERTANEJAS AMAZONIAS PARAENSES 1858 - 1859 1862 1864 - 1867 1860 - 1863 por onde se verifica que tõdas essas produções foram escritas dos 15 aos 24 anos de Idade, em Macapá e Gu.rupâ, quando o poeta dispunha de uma lnstn1ção pri– mária deflclentfsslma, em meios at rasados e não havia, ainda, entrado em contacto com outros centros de cultura superior . Só em 1873, ao chegar á cidade da Vigia, encontrou ambiente propicio ao desenvolvimento do seu espfrlto, pois q ue a "pérola do Salgado" era, naquéle .tempo, um brlllrnnte centro Intelectual, bastante movimentado e entusiasta. Assim, LYRA DAS SELVAS tem, simplesmente, o valor dum documento da evolução mental de Bezerra de Albuquerque. Pesar de t udo, e a t itulo de curiosidade, vale a pena conhecer alguma cousa da poética do cantor amazônico. Nas SERTANEJAS, versos dos 19 anos, há uma poesia Inti– tulada "Yaulara", da qual destacamos as seguintes quadras, que dão bem a medida da técnica do versejador : No véo flutuante. das agoas correntes, Se mira, se estampa, com tanta magia, Flltrando seus ralos no manto de anil ; Nas ondas serenas, no llmpldo arrolo, Que a b rlza embalança com terno girar, O astro orgulhoso se embala em requebros, C'lorlndo com luzes as praias do mar ; Depressa se calam da brisa os gemidos, Nem mesmo se ouve nas agoas rumor ; Um rosto singelo se mostra nas agoas, Depois em seos lablos um riso de amor ; ············ ···· ·· ············· ······· ··· ····· Um lndlo a parece sorvendo ' a fumaça Dum grão tauharl, e da arara ~anela As penas retrlzes ; desenha uns signaes No corpo, nos ares, n as agoas, nn areia . Mas a bela huaklq_ue se recusa n revelar ao _lndlo o segredo de Saromblatá Segredo que encerra. .. Niio posso dizer-te, Ahl vem Anhangá, eu t remo de medo ;-

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