Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953
-ltEVISTA DA /ICAPl!iMlA PAR,Al!;NSJ!: DJ1! Ll:iTIMS 31_ BEZERRA DE ALBUQUERQUE De ABELARDO CONDURú (Cadeira n. 6 - BEZERRA DE ALBUQUERQUE) Os afazeres de então, quando o cargo exercido na Prefeitura de Belém me tomava o tempo todo, levou-me n falta grave. dn qual me penitencio agora, decor– rida mais de uma dezena de anos. Com a minha entrada na Academia Pa raense de Let ras, para ocupar a cadeira de Bezerra de Albuquerque, cabia-me, n a recep– ção formallstlca, discursar enaltecendo os méritos e as qualidades do patrono que, forçoso é confessar, me era quase estranho . Dêle, falecido em 1897, chegara-me ape!las, pelo falado reverente dos contemporâ neos, pouqulsslmos aliás, e pela con– vlvencta amiga dos filhos, ressaltando a do lnesqueclvel e rutilante Aldebaro, que me foi das m ais caras, noticias vagas e um tanto Imprecisas, pondo-me em situa– ção embaraçosa pa ra o desempenho da tarefa sodallcla. A envolvente modéstia e o peculiar retraimento· do Mestre conspícuo, que se eclipsara, por Isso m esmo, afora o minguado do tempo, não me p ermitiam buscar, diretamente e por conta própria, com o remexido dos a rquivos precários, algo de Interessante e recomen – dável, caracterizando o Individuo exponenclado pelo seu saber e pelas suas virtudes. Tive, assim, de recorrer a amigos vividos naquela época, que não foi a minha, em contacto Intimo e salutar camaradagem com aquela Invulga r figura de homem de letras e professor emérito, que me cabia homenagear, como membro do Sllogeu.' E foi dêsse modo, lendo Artur Viana e graças aos apon tamentos trazidos, de bom grado, pelo nosso saudoso confrade Olavo Nunes, do meu aprêço e da minha afelçãq, que foi possível o traçado das linhas abaixo, retratando a pinceladas largas o PROFESSOR SEVERIANO BEZERRA DE ALBUQUERQUE Perfil Alto, magro, moreno pálido, sempre de fraque, olhar agudo e penetrante, barba em cavanhaque, bem talhada, morrendo em ponta sõbre o peito, o profeSBOr Bezerra de Albuquerque era uma figura Impressionante e sugestiva. Aos que dêle se aproximavam, ainda que pela primeira vez, recebia-os sempre com um largo sorriso acolhedor e um clarão de curiosidade nos grandes olhos Investigadores. Modesto em extremo, nunca falava de si e quando alguma questão lhe era proposta, excusava-se a principio, encolhia-se, dlmlnula-se, invocando precàrledade de co– nhecynentos Sôbre O assunto, sua Incompetência, sua falta de autoridade, enfim. Mas, se o Interlocutor Insistia, Instigando-o, espicaçando-o com perguntas, o Mes– t re la se animando lentamente, vacilante a principio, Indeciso, como quem rebusca qualquer coisa nos escaninhos da memória até que, senhor absoluto da questão proposta, discorria com ent usiasmo e proficiência sôbre a matérla, esgotando-a. DADOS BIOGRAFICOS Severlano Bezerra de Albuquerque era n atural do Ce~rá, onde n asceu a 8 de novembro de 1843. Foram seus pais dona Mariana Inac,a de Albuquerque e o t enente Joaquim Bezerra de Albuquerque, que comandava a colônia militar Pedrt> II, no Araguarl, onde, a 14 de maio de 1855, ao enfrentar, herôlcamente, a guat'I)l– ção da colônia que se revoltara, foi bà rbaramente assassinado pelos soldados rebe– lados, ficando Severlano com doze anos apenas de Idade. Fez o curso primário, com louvável aproveitamento, revelando, desde Jogo, o seu pendor para as letras, na escola do conhecido professor Manuel Maria Duarte, àquele tempo um dos mais destacados membros do magistério primário do Pará. Com a morte do ohefe, a famflla do tenente Joaquim Bezerra de Albuquerque ficou em situação precarlsslma, lutando com as maiores dltlculdades, 0 que levou Severlano, quase menino, pois contava 17 anos de Idade, a disputar, num concurso brllha~te, a cadeira de pro– fessor da escola de Macapá, para a qual fôra ]lomeado e cuJa re~êncis. alll!umlu a
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