Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA ÕA AéADÊMIA Í>ARAENsEi ÔÊ LETRAS Carlos Nascimento amava a mulher e lhe rendia o cult o da sua homenagem porque era um !nsclnado do Belo e o.Belo é multiforme na sua revelação. Faz-nos lembrar outra Imagem, esta de Biasco Solér, na CRIAÇAO DA MULHER A mulher não foi criada de uma costela de Adão. .. Criou-a um grande Poeta. É a rosa mais delicada, rosa de amor predileta, flor da magua e da Ilusão Olhos nos seus... Imagino... Deus, o excelso sonhador tê-la de um beijo divino na corola de uma !lor 1 As respostas às interrogações que seguem revelam ainda facetas lntereasan– tfasimas do caráter mágico de Carlos Nascimento. A minha verdadeira vocação? Missionário. O que eu desejnrla ser? Educador, à testa de um Instituto de ensino, onde se aplicassem os modernos preceitos da !lslo-pslcologla regorgltante de mocidade, trabalha ndo no meio de livros, mestres e dlscipulos. A época que eu quisera ter vivido? A em que a fõrça bruta das armas açu– ladas pelas paixões dos Gabinetes, disciplinadores da deshumanldade, !õsàe substl– tulda pelo poder moral dns capacidades - educadores e estadistas - que, dando Impulso ao sentimento universalista, equilibrassem, por fim na paz, os interêssea de evitar uma chacina Inútil, que dessangra para sempre o amor próprio dos povo.a, deixando assim o mínimo do esfôrço ao zêlo agressivo sempre Ignaro e egolsta das nnclonalldades. A poltrona Carlos Nascimento acaba de ser ocupada, entre nós, por outro Mestre de Igual valia, Genulno Amazonas de Figueiredo, autor de utn excelente Tratado de Direito Romano. , Amazonas de Figueiredo, tive a Iellcidade de conhecê-lo, lecionando a cadeira de Sociologia no antigo Liceu Paracnse, que então eu !requentava como aluno. ~o– vem ainda, Já êle t_lnha a preocupação de ensinar o amor às letras, ume. certa tendência vocacional, para o exerclclo do magistério. Saindo da terra nativa para conquistar o gráu de Bacharel em Direito na Faculdade de Recife, de regresso jà ,o encontrei exercendo altas !unções administrativas neste Estado, como !3ecretárlo da Justiça, Interior e Instrução Pública do Govêrno de então. Governava o Pará o dr . Augusto Montenegro, afamado polltlco, de alta visão administrativa e elevado senso Jurfdlco. Fundada, outro~lm, se achava, e em pleno funcionamento, a Fa• culdade de Direito do Pará, fruto abençoado do Instituto Teixeira de Freitas, de que foi Amazonas de Figueiredo um dos principais fundadores. Chamado a exercer funções públicas na minha terra natal desempenhei, por primeiro, as funções de Secretário da Faculdade, onde encontrei o dr . Amazonas lecionando, Interinamente, a cadeira de Direito Romano, pois lhe cabia no corpo docente a cadeira de Legislação Comparada, para a qual ainda não havia alunos. outras cadeiras lec!onou o dr . Amazonas no curso Juridlco-soclal da Faculdade do Parà, mas, em nenhuma se avantajou tanto como na cadeira de Direito Romano cujos prlnciplos seculares ainda hoje rejuvenescem, com a sua apllc!),çllo, o esplrito de uma época porque são a fonte fecunda do direito de tõdas as nações do mundo. Amazonas de Figueiredo, entretanto, jàmals mecanizou o estudo . do Direito Romano, para o transformar em uma repetição monótona de estudos prátlc?_s. Ao contrário, buscava conhecer a alma dessa const rução gigantesca que fçl a razão prática dos romanos, quando arquitetaram o grande monumento de sua legislação imorredoura. Já então, qual novo Ihenlng, o Ilustre Mestre distingue ent~e. a anatomia do direito e a sun fisiologia : a ana tomia estudando os elementos de que se compõe o direito e a sua estrutura ; a fisiologia. estudando o or~anls~o .em função. cultor apaixonado do Qlrelto entende mais o dr. Amazonas, como Ihenlrtg, que a função do direito manifesta-se por sua realidade . . . Aliás, esta felçlio jurldlca, e altamente simpática era a caract:rlstlcn predo– minante da personalidade eminente de Amazonas de Flguelred~. . Neste egrégio 60•

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