Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS guagem falada e na linguagem escrita, com n doçura de um apóstolo, com a con– vicção de um crente, com a serenidade de um sábio. Moço ainda,, desapareceu Carlos Nascimento aos 36 anos de Idade, longe da terra onde exerceu a sua atividade benfeitora, deixando-nos Imersos na mais pro– funda saudade. Mas, se desapareceu da vida objetiva, deixou-nos as dlretr lzes da sua grande alma de torturado e sonhador, através das suas sugestivas poesias eivadas de um encanto -original, parnaslanas pela disciplina da linguagem, do mesmo passo que filosóficas na concepção do mundo e da vida que as caracteriza. Era o que se pode chamar um poeta filósofo, daquêles que compreendem a ppesla como uma compensação eficaz contra as misérias do mundo, como atividade ·do espiritó, olhando além da realidade presente e Impulsionando o progresso, Éls um dos sonetos mais sugestivos, de sua lavra, definindo· o poeta : Deus à frente, a subir o •árduo declívio da '·estrada. Caminha, sob a cruz sereno... :E pelo Ir poento, T rôa atraz o t ropel da turba desgrenhada, A carregar t roféos, a concfainar ao vento. Traz o rei a corôa, o arnez o herói, a enxada O lavrador. o Juiz a pena e o ouro o avarento, O filho, ao -colo, a mãe, - doce carga pesada 1 Tudo Isto é fardo, é ?ruz e, sendo cruz, tormento. Todos correm, lutando, ao mesmo !lm precário 1 Mas entre eles um só - estranho peregrino - De alheias cruzes faz a cruz do seu Calve.rio : E o Poeta.. : E, como poeta, entre prantos e dores, Sorrindo aos céos, avança, a cumprir o destino De ser o Cyrlneu de tantos pecadores 1 Faz-Fios pensa.r em Tobias Barreto de Menezes quando igualmente verseJa : "O coração é tambem um metafisico Vive sempre a querer umas coisas lmposslveis'•. Aliás, no gôzo estético, os sentimentos, a Inteligência é o coração, ordlnàrla– mente em conflito, vivem na mais · perfeita harmonia, Justificando esta Idéia de Lange: "O olhar do amor poetisa, o ardor do coração poetisa e si se pudesse fazer desaparecer toda essa poesia, é permitido perguntar se a vida ainda encerraria al– guma cousa que a tornasse digna de ser vivida". Mas, não só filósofo e parnaslano foi o poeta cuja m emória nos é grato rememorar. Por vezes, os seus versos s!i.o de um lirismo encantador. Assim, êstes, Intitulados "Versos antigos" : VERSOS ANTIGOS -I- Escuta o adeus dolorido, Envolto no sentimento. Se acaso pode um lamento Comovercte o coração, Não venho a teus pés rajar-me, Como algum flél cativo : Mesmo Infeliz sou altivo Não mendigo compnlxllo.

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