Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 21 - Eu tive meios para salvar-me ; mas, se deixasse esta cidade sein cnefe, não se pode ter idéia dos crimes que se haviam de come– ter. Preferi ficar para os ev itar, e par a isso lancei mão de todos os recursos, inclusive do fuzilamento, para que o respeito a popu lação e aos seus bens fosse mantido . · E com aquela sobranceria que era o traço predominante do seu carater : - Sou cabano, senhor presidente Francisco Soares de Andréa, mas n ão assassino ! Confessa Andréa, numa das suas cartas ao presidente do Ma– ranhão colecionad as no Códice n . 655, do Arquivo Público que An– ·gelim, em todas as respostas que lhe deu , n em mostrou orgulho nem humildade : "NUNCA balbuciou , NUNCA d eu o ma is pequeno, sinal de que o espírito se lhe abatia, ou de estar possuído de temor, fosse de com– paixão de si mesmo .. ." Enquanto o presidente conver sava com Angelim, no salão de despacho$, fora levrado o ato, mandando recolhê-lo, preso, p a ra bor– do da corveta "Defensora". No ofício que Andréa dev ia assinar, en– caminhando o caudilho ao comandante do barco de guerra, estav a es– crita a ordem para ser o preso conservado a FERROS . Era o cos– tume da época. O presidente pegou da pena e riscou a indicação A FERROS. Não pe rmitia aquela humilhação ao chefe cabano . É que admirava a cnragem daquele homem de 22 ano3, que o dest ino elevara as cul– m inâncias de oresiden te da Província do Pará. Admirava o seu idea– lismo. A sua- tenacidade . A sua fé inquebrantavel n a fina lidade so– cia l da grande revolução paraense. Voltou-se para o pr isioneiro e disse-lhe: - Senhor Eduardo Angelim, eu não o mando a ferros . O cabano n ão se per turbou. Não se deixou empolgar p ela ge- nerosidade do vencedor. Apenas respondeu : - Obrigado, senhor pr esidente ! Andréa confessa na sua correspondência : "~le AGRADECEU-ME muito civilmente, MAS SEM SINAL NENHUM DE HUMANIDADE ... " O capitão Melo pediu licença para r etir ar-se. Angelim inclina– se r espe)tosamente, d iante do gene ral . E êste, sem se •aper<;e~er dos olhares indiscretos dos seus oficiais, e sem temer os comentanos que a sua generosidade e grandei:a de espírito desp er tassem, estende u a mão a Eduardo : - Lamento esta situaçã0. disse. ao ca udilho, mas acredite que sou admirador da su a cor agem. ·· O moço cabano seguiu a cumprir o seu destino, enquanto An– dréa voltava a despachar o expediente do govêrno . Mas, não conseguiu tra balhar. Abriu as jan elas que davam par a a praça da Constituição e fi xm.1 a v ista nas águas agitadas do Guajará . Lá estava a "Defensora" . Para ali iria o bravo cabano . . Andréa espalmou as mãos muito gordas e r osadas, no peitoril da Janela. Mas, teve d e r etirar-se, logo . Os seus olhos ard iam . Seria por ca usa do Sol ? (Do Livro "Procissão dos Séculos") ,

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