Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

20 REVISTA DA 'ACADEMIA PARAENSE DE ·LE'l:R,AS "V. Excia. tefÍha em conta que o Pará é uma Província, afeita a uma revolta por ano nos TEMPOS MAIS SOCEGADOS, e que quantos soldados incorrigíveis haviam pelas Províncias, de todos me fizeram presente para eu daqui os aturar. Estes homens não tem precisado de motivos para entrarem nas SETEMBRADAS, ABRI– LADAS, JANEIRADAS, AGOSTADAS e quantos nomes tem o ca– lendário e muito melhor o farão tendo tão justos motivos, como não receberem seu sôldo nem fardamento". tstes exemplos traduzem o temperamentô de Andréa e o seu conhecimento dos homens com· quem lidava . Porque nada escapava à sua argúcia, ao seu exame, a sua análise . Só assim podia usar e abusar da franqueza de que era dotado. Há, todavia, na vida de Andréa, um episódio que vale pelo me– lhor julgamento do seu carater. Vamos recompô-lo, com a ajuda dos preciosos Códices manus– critos da Biblioteca e Arquivo Público do Pará. 30 de outubro de 1836. O General Andréa despachava o expediente do dia, no Palá– cio do Govêrno, quando o ordenança de serviço veio anunciar-lhe a prr.sença do capitão João Francisco de Melo. O oficial tinha pressa em ser recebido. Essa circunstância, e mais o fato de estar acompa– nhado de um homem novo e forte, com ares de nordestino, mal tra– jado e sujo, e que vinha sendo alvo da curiosidade geral, induziram o ordenânça a precipitar o aviso ao presidente, embora fosse hora do expediente, quando a ninguem recebia. - General, o capitão Melo deseja ser recebido por V. Excia. imediatamente. - E o que quer o capitão Melo? - Nada me disse. Mas presumo que seja acontecimento grave. - Como assim? O capitão Melo revelou-lhe alguma coisa? - Não general, mas faz-se acompanhar de um homem que V . ExC'Ía. p1·etende imenso conhecer. - Explique-se, que homem é esse ? E o ordenânça, também emocioi;ado como o capitão Melo e o povo que se ajuntava diante do Palác10, esclereceu: - É o sr . EDUARDO ANGELIM ! O general Andréa levantou-se. Mal podia acreditar no que lhe dizia o subordinado. Então estava preso o grande chefe cabano? Como acontecera isso ? O presidente deixou de lado o expediente do dia e disse ao ordenança: . - Depressa, mande entrar o capitão Melo e o sr. Eduar do An– gelim. E de pé, esperou o caudilho. Quando êste entrou, não se conteve, e estendeu a mão ao pri– sioneiro. - Espero que os meus subordinados o tenham tratado bem, sr . Eduardo Angelim. - Fui bem tratado e respeitado, sr. General Andréa. - E: que tenham igualmente, respeitado os seus bens. - Bens, senhor presidente? Nada mais tinha de meu quando fui preso. Andréa perguntou ao jovem idealista, por que não abandonara os companheiros mais cedo para salvar-se da prisão. - Seria isto fácil, no seu caso. E Angelim:

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