Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA DA ACADEMIA PARfi.ENSE DE LETRAS;! 19 ANDRÉA E A CABANAGEM . Ernesto Cruz (Cadeira 7 - Barão do Guajará) Não é possível estudar a personalidade do General Francisco José Soares da Andréa. sem o auxílio da . sua copiosa correspondên– cia, distribuída nos Códices da Biblioteca e Arquivo Público do Pará. São peças magnificas dignas do seu espírito irrequieto, reflexos da sua alma, tFechos ditados p ela franqueza que o caracteriza, e onde vamos encontrar bem analizados, os personagens e os fat os de sua época. Arguto conhecedor dos homen s, -não se deixava seduzir pelas conveniências dos amigos ou p elas lantejoulas do poder . Era igual com todos. Sincero e desabusado no falar e no agir. Franco e ho– nesto nas atitudes que tomava . Três exemplos b em significativos traduzem o carater dêsse ho– mem. que a história aponta como o vencedor dos cabanas . Certa vez, recebeu , do presidente da província do Maranhão, u_m pedido para satisfazer a pretensão de uma dama, cujo marido fa– zia parte do corpo expedicionário maranhense, chegado ao Pará para combater os revolucionários. Tratav a-se de uma senhora descendente de antiga e conceitua– da família, da estima p essoal do presidente Bibiano de Castro, que desejava agradá-la de qualquer modo. Daí a sua interferência no assunto. Andréa atendeu a preten são da mulher ; mas sobre o marido, enviou ao seu colega do Maranhão as seguintes linhas : "Devolv o a V . Excia . , o r equerimento d e d. Josefa Marcelina Nunes Balfort, DEFERIDO como ela d esejava . O marido desta se– nhora não me faz falta nenhuma, porque- não faz serviço, nem foi possível pô-lo à frente de forca alguma que tivesse de fazer alguma diligência. Não houve BAIXESA, n ão houve INDIGNIDADE que este oficial não cometesse p ar a conseguir não ser empregado : não obs– tante obriguei-o a marchar para o Mara jó mas tomou ali partido de SE FINGIR MORIBUNDO e o seu comandante, m elhor homem do aue eu , d eixou-se iludir dêstes fingimentos e passou a ocasião de ENTRAR EM FOGO sem chegar a ser l evado a êle A FORÇA COMO EU TINHA ORDENADO . Pode V . Excia. FAZER DELE O USO QUE BEM QUIZER ." De outra feita receb eu de Manoel F elizardo de Sousa Melo, oresidente da Provín~ia do Ceará, pedido p ar a ajudar o sar gento João F ernan~es Vieira Varej ão, do Corpo de Municipais P ermanentes da– a~ela cidade, em operações de guerra contra os cabanos, que preten– dia o ·posto de alfer es, no ex ér cito imperial . Andréa bufou. Era muita preten são! - Onde já se viu - per guntava êle aos seus auxiliares d e ad– ministração - um pa isano pretender ser oficial do exército ? O Corpo d e Municipais n ada mais era, efetivamente, do que paí~anc_is fardados. E, sem a tender a qualquer co_nveniência ou a m ais smgela cortesia respondeu, dêste modo, ao presidente do Ceará :

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