Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

fü:v:iéTA DA A6ADÉMÍA P~AENSE DE LETRAS H "---------------------------------..- - Penso que é a estréia literária do meu amigo. Paulino, dizendo-me seu conhecido, tomou da papelada e a leu tôda . Comprimentou-me, amavelmente, pelo meu trabalho, prome– tendo publicação para o dia imediato. Fui ao Liceu, depois tomei o rumo de casa, ansioso . por que as horas entrassem em disparada. O mundo, entretanto, continuou a sua marha costumeira. Mal apontou a manhã, andei em busca do jornal, que, embora já vendido nas ruas, ao preço de 60 réis, não tinha pressa em ser apre– goado, tão poucos o compravam, visto que as mercearias e quitandas o forneceiam aos moradores da vizinhança. Afinal, consegui o que queria, e o meu trabalho figurava ao lado da crônica de Heliodoro de Brito. Esqueci as aulas, e andei pelas raus a ver se alguém me falava do surto literário. Penso mesmo que, se naquêle instante, me per– guntassem quem eu quizera ser, consagrado nas letras, eu preferiria ser . . . eu mesmo . ' o , "Diário de Notícias", propriedade· de Belarmino Araujo, e direção de Paulino de Brito, tinha a sua redação e oficina na rua da Indústria, hoje Gaspar Viana, quasi ao canto da travessa Leão XIII. A redarão além da carteira de Paulino, da mesa do secretário, que era Manoel Valente do Couto, e dum armário, onde eram guardados os números do jornal, e uma garrafinha de cachaça, que o Couto, vez por outra, beijava não oferecia outro mobiliário . Nas oficinas, pou– co$ caixotins, e u~ prélo manual, que o impressor Navarro fazia mo– ver por algumas horas para expelir 1. 200 exemplares. Dizia-se, contudo: que ao tempo de Joaquim Lucio e João Can:ip– bell, seus proprietários anteriores, a tiragem era maior, tendo sido êles os iniciadores da venda avulsa. Soube eu, também, por esse tempo, que impressor e prélo acompanharam as oficinas vendidas ... Com o correr dos anos, e depois que os meus movimentos se foram reduzindo, entre as coisas que consegui aprender está a de que, segundo o povo, "viver todos vivem, saber viver é que é". E o mes– mo se pode dizer do barulho . . . Que arte complicada a do cabotino ! ·~ * * . Claro que as minhas horas mais preciosas passaram a ser dis- pe~didas n? jornal, sobretudo, depois que Paulino me entregou a seç:ao que ele mesmo batisou de "Falando às moças", e subscreveu "Janota". . O Couto entrou a me confiar a . redação do reduzido noticiário.' Heliodoro de Brito, Frederico Rhossard e Belarmino Araujo dispen– savam-me atenções que me tornavam menos criança . JYI.as o meu entusiasmo cresceu, na tarde em que, chegado de seu exiho em Cucui José do Patrocínio e Pardal Mallet, procuraram a redação. Nesse ~esmo dia morrera Deodoro da Fonseca . . Do pessoal da redação só eu ali me encontrava. E Patrocinio queria escrever . . Ofereci-lhe a mesa de Paulino, onde êle encontrou tudo quanto precisava . Mallet convidou-me a sair, pois Patrocínio não tolerava que alguém respirasse ao seu lado, enquanto escrevia . O artigo recebeu O título : Deodoro e foi uma daquelas pi!ginas fulgurantes do grande jornalista . PaulinO' abraçou-me pelas providências que eu havia dado .

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