Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953
7 REVISTA DA AdADEMIA PARAENSE Óili tifãAà. 14!1 MORREU GRACILIANO RAMOS Arrebatado pela morte, depois de lo;,gos martlrlos de uma doença pertinaz desapareceu no Rio de Janeiro no dia 20 cte m arço de 1953, o grande romanclst~ b:asllelro Graclllano Ramos. O passamento verificou-se na Casa de Saúde São Victor, onde se encontrava Internado há mais de trinta dias; mas desde meados do nno pnssndo, quando regreBSou do. Europa, o lnslgnc oscrltor tlvem a revelação de terrlvel mal que, finalmente, o prostou ; era Graclllano Ramos mais uma DOENÇA E RECOLHIMENTO Dotado de uma energia extraordinária, Oraclllano Ramos resistiu por muito tempo n terrlvels padecimentos. Viajou para Buen os Aires, a fim de submeter.:ie a uma Intervenção cirúrgica. Constatada , porém, a lmpratlcà bllldade da operação, pois não mais ~avia esperança de salvá-lo, retomou no Rio de Janeiro certo de que não sobreviveria por multo tempo. o seu caso estava lrremedlàvelmente perdido. · Recolheu-se então ao lar conformado com os deslgnlos do destino. Sua resig– nação causava admiração nos próprios médicos que o tratavam - drs. Reglnaldo Fernandes e Alceu Coutinho . O mal progredia, entretanto. terrivelmente. Sobrevieram os primeiros sinto- mas do desenlace. ENTRE A FAMA E O IDEAL Considerado o maior escritor contemporâneo do Brasil. o grande romancista não deixou grande número de livros; · os poucos, porém, que publicou, consagra– ram-lhe o nome, projetando-o Igualmente nos mais adiantados cenuos de cultura do mundo. A sua obra é tipicamente n acional, reflete como documentos Impres– sionantes os quadros da v!da nordestina, onde se desenrolam os mais trágicos acon– tecimentos sociais do povo brasileiro. Servido por um estilo soberbo, vivo, impla– cável, fiel às descrições do melo ambiente em que viveram seus personagens, suas obras Incluem-a" entre as mais notáveis da atualidade. Suas descrições são algu– mas vezes pungentes e dolorosas, n elas transbordando, como num grito veemente e bárbaro, os anseios de uma raça espoliada e esquecida. Entre os seus livros que maiores sucessos alcançaram figuram "Angústia", "São Bernardo", "Vidas Sêcas" e ' 'Cnetés". Oraclllnno Ramos foi, Igualmente, um grande ldeallsts. Elemento de proje- ção no comunismo nacional, era presidente da Associação Brasileira de Esc.rltores. O l)LTl!\1O LIVRO • Há cêrca de dois anos, Oraciliano visitou a Rússia, em missão especial do Partido Comunista Brasileiro, tendo percorrido diversos pnlses da órbita soviética· últimamente, preparava um livro de Impressões sõbre aquêles palees, o qual, entre- tanto, não chegou a concluir. BIOGRAFIA Filho de abastado fazendeiro, Sebastião Ramos, nasceu o autor de "Vidas Sêcas", no munic!plo de Quadrângulo, Estado de Alagoas, no dia 27 de outubro de 1892. Mudando-se aua familia para o munlciplo de Palmeira dos tndlos, ai vive algum tempo n a fazenda de seu pai. Aos vlnté e dois anos de Idade embarca para o Rio de Janeiro e ai emprega-se como revisor do "Jornal do Comércio"· Não en– contra, porém, ambiente favorável, e sem recursos volta para Junto de seu pai. Envereda então na vida comercial, como caixeiro de balcão no armazém de s~cos e molhados que seu pai dirigia em Palmeira dos tndlos. Nessa cidade ganha repu– tação e, Já então estabelecido por con ta própria, enriquece. J;; eleito prefeito do munlc!p!o e, no exerclclo dêsse cargo, em 1926, escreve o seu primeiro romance "Cnetés", publicado, porém, tempos depois. Em 1930 é chamado à capital do Estado investido das runções de diretor da Imprensa Oficial. Em 1932 con:ieçn .n escrever "Angústia", considerada sua maior produção literária, concluldn em 1935, quando ex-0rcla o cargo de diretor geral da Instrução Púbtlcn em seu E 5t ado· Nesse mesmo ano, denunciado como conspirador no movimento comunista, perdeu
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0