Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

L ·REVISTA : DA ·. A0 ADEM1A PA?AENSE . DE L~TRcY5 143 OTAVIO - Estou sendo sincero. Ouço os passos do teu marido quando regressa, :iltas h oras da noite, cheio de preocupações e de casos a resolver. Tu estás acordada, anciosa, esperando-o, na certeza de que, aô chegar; te aca– riciará o <"abclo, te beijará, te chamará de querida , voltará a dizer-te as .mes– mas b:mahdades que te disse na primeira noite. Não demoras a desiludir-te. A cama é para éle o lugar onde encontra solução para seus complicados pro– blcmHs cotidianos e onde repousa a mulher que escolheu exclusivamente para se satisfazer. Já vês nele um animal repugnante que começas a desprezar e que te causa nõjo . LUCIA - (Soluçando) - Não digas isso, Otavio. Não estás dizendo a verdade . Queres apenas fazer-me sofrer, atormentar-me. Amo meu "marido, po1· que não haveria de amá-lo ? Nada me falta . Tenho tudo o que desejo. Ele sr.tlsfa7 os meus menores desejos com a mesma alegria com que atende aos meus mais absurdos caprichos . Esta é a verdade, Otavio. -Queria que me dis– sesses que estavas Brincando, que estavas sómente te divertindo comigo. Re- pete isso, Otavlo. Por favor, dize que tenho razão. · · OTAVIO - Não. Não seria justQ enganar-te nem tentar iludir a mim proprio. Isto já não está mais dentro de minhas possibilidades. Sou aquele que ja não sabe viver entre mentiras e, por esse motivo sómente P,or esse mo– tivo, devo ser digno de lástima. LUCIA, soluçando, desce as cscada.s.

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