Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

l:iá i'l.EVÍSTA 'DA ·ACADEMIA ·PARAENSE bE LETRAS OTAVIO - (Dá nova gargalhada) - Foi isso, então ? ótimo, magnifico. HELOISA - De que o senhor está rindo? OTAVIO - Não desejam então que me levem? Amam-me muito, que– rem-mé tão bem que jamais suportariam o sofrimento de separar-se de mim. Só a ·lembrança da possibilidade de que isto possa vir a acontecer, emociona-os, faze-os chorar. Naturalmente minha madrasta disse-t_!? a mesma cousa e minha lrn1ã repetiu-te as palavras de seu marido. São uns santos, uns inocentes, uns puros, que já conquistaram o reino dos justos, agradecendo as graças que ·os· divinos lheR concederam, fazendo publicações nos jornais . _HELOISA - Mas . , . n ão u entendo, senhor Otavio. Há qualqu~r cousa em s u a ·voz que me causa arrepio3. Parece-me que ? senhor não está· dizendo o que, na realidade, sente. ÓTAVIO - Enganas-te . Digo sempre o que sinto porque me 3ulgo o mau, ~incero e honesto dos homens. Queres saber por que, na verdade não desejan'I ·que me levem daqui ? HELOISA - Eu . . . OTAVIO - (Cortando-lhe a frase) - Porque tem pavor. O pavor que a sociedade, os clientes de meu pai, os freguezes de meu cunhado, as intole– ráveis 1 amigas de minha madrasta e de minha irmã venham a descobrir a ver– dade . HELOISA ...,_ E que haveria nisso demais ? OTAVIO - Eles passai,iam a ser temidos também, compreendes? Pas– sariam a ser evitados tanto qua nto evitariam a mim. E não deixaria de existir qu;;,in começasse a ver s intomas alarmentes em meu pai e em meu cunhado. HELOISA tem uma expressão de assombro. HELOISA - Mas, por que o se nhor não quer ver ninguem nem quer. que o vejam . Tanto o seu pai como o senhor •Julio já têm insistido em entrar no quarto. . QTAVIO - Já viste nos circos esses palhaços maquiados com um repe– lente exagêro ? Pareço-me terrivelmente com eles . Fisicamente estou transfor– mado num ridículo palhaço . Bem sei que os palhaços, às vezes, causam pena ãOs espectadores. Mas eu jamais admitiria compai_xão ,e não pretendo, muito menos, provocar gargalhadas . .HELOISA - Então _é esse o motivo porque o senhor quer sempre viver SÓ? OTAVIO - Não é só esse o motivo, não, que me leva a desprezar con– vivência .com os homens . É que também não quero vir a odiá-los mais ainda do ':jUe jã os odeio. HELOISA ( Como se não soubesse o que havia de dizer para mostrar al– gum carinho) - Mas . . . à noite o senhor bem poderia sair. Dar um passeio no automovel de seu pai. OTAVIO - Não. Para que ? não espero mais nada. Ou melhor, espero apenas o que minha madrasta espera também, tão anciosamente. HELOISA - O que ? OTAVIO - O fim. O meu fim . Mas êle ta~dará ainda. HELOISA - O senhor não acha que está sendo um pouco injusto, senhor Otav io ? ' OTAVIO - Se ria injusto se es tivesse m~ntindo. Ela, por acaso, teve, uma só vez que fosse, alguma palavra, algum gesto de carinho para comigo ? HELOISA - Sempre que ela fala no séu nome é demonstrando que. 0 es.t:1ma mulfo . OTAVIO - r Não. conheces as criaturas . Não tens capacidade para fazer a - dif-el'eJi~a entre , umas e outras. - Pouco conheço minha madras ta. Quando procur.:?i as sombras para minhas amigas. ela ha via casado com meu pai ha pouco 1~1111)0 . Ha pouco mais de um a no. JY!as já a ·~onheço suficientemente para saber qu~ =tudo nela é falso. O mai!I" intei-essante neles é que não pro• J

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0