Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953
1:ió ,· ~ . REVISTA DA ACADlllMIA P ARAENSE DE LETRAS ' BEM LONGE DE DEUS Mario Couto, jornalista dos "Diá rios Associados", em Belém , e t eatrologo paraense, obt eve o primeiro lugar no concurso de literatura de 1952 da Academia Paraense de Le– tras, conquistando, assim, o pri\mlo de tea:tro '·'Elmano Quei– roz", no valor de quatro II!il cruzeiros. . · A Revista da Academia, na forma do regulament-0 do concurso. publica agora o primeiro capítulo do drama pre– miado, intitulado " Bem Longe de Deus . . . ", ficando a pu– blicação dos dois atos restantes para os próx imos números : Como tive coragem , Otávio, de penetrar no mistério de tua vida e reve– lar-te, e u que sempre vivi entre criaturas simples e bôas ? Como pude usar todo o ódio que se concentrava de ntro de ti apenas para satisfazer o banal capricho de escrever uma his tória ? Poderia salvar-te, e não o fiz. Pelo contrário. Em– purrei-te em u m ,charco imundo e ali, sem qualquer remorso, te aba ndonei. Creio que ainda te sobrar á um pouco de força que permita er gueres-te para, então inicia res um caminho muito diferente daquele que pisaste enquanto fui t e u guia. Viajar ás ton to e cégo mas a rre pendido e santificado . E, na certeza de c..ue caminhas ao encontro de Deus, resta-me· o consolo de que, nesse mo– mento, nem para mim terás o mais lnfimo pensamento de ódio . Mario Couto . Peri;onagens : CRISTOVÃO, LUCIA, JULIO, ARTUR, pai, Ir mã, cunhado e amigo de OCTAVlO, respectivamente. HELOISA, empregada da familia : E OCTAVIO, o doente que vive encerrado em seu quarto e do qual ouve-se apenas a voz e vê-se a mão e nluvada . PRIMEIRO ATO No primeiro anda r de um m oderno bangalô desenrolam-se os três a tos desta peça . Da esquerda alta, desce a escada que leva ao a ndar terreo e à esquerda baixa vê-se a porta do qua rto de Cr istovão e de sua esposa, Ma rgarida . Ao centr o, portas dos q uar tos de Julio e Lucia, e de Otavlo, o doente, do qual, dumnte a peça, ouve-se sóm ente a voz e vê-s.e a mão enluvada recebendo as cousas. livros ou comida que lhe levam . A direita, ampla janela, sob a qua l pode ser colocado um diva n . Colunas com pla ntas decoram o cenário. São oito horas da manhã q ua ndo esta história tem seu Inicio . Ao le– vantar o pano, a cê na es tá vazia . Logo, a bre-se a p orta do qua r to de JULIO e este aparece, preparado para sair. Surge também LUCIA . O casal despede-se com um beijo e, imediatam ente, LUCIA fech a a porta . JULIO encaminha-se para a porta do quarto de OTA VIO, batendo n.a m esm a, levemente, com os nós dos dedos. ouve-se a voz de OTAVIO. OTAVIO - Que h á ? .TULJO _ J á vou sair . Precisas que traga alguma cousa algum liVTo ou feVISUI ?
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