Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953
T ~t;E:(7I5_TA .. DA ::4\C.Af>E~IA PARAENSE DE LEfB,_AS _131 FARRAPOS HUMANOS (,Excerto do romance PAX) O prêmio de romance "Inglês de Sousa", no valor de quatro núl cru• zel ros, do con curso de literatura de 1952 da Academia Pa,raense de Letras, foi conf\uistado pelo escritor paraense Mecenas Rocha, falecido nesta capital a 30 de maio ú ltimo, ou _seja 27 dias depois do recebimento do prê~io entregue que foi ,a 3 de maio em brilhante solenidade realizada no Teatr o da Paz. O capitulo abaixo foi extraido do livro "Pax", premiado pelo Sllo_geu re– ·gional \ Leónidas tinha percorrido os principais trechos da cidade. · Penetrâra nos edifícios públicos. associativos e religiosos . Em várias ocasiões e lugares diferentes, estivera em· direto contacto com os lidimos representantes da so– ciedade, da politioa, da burocracia, do comércio, das indústrias, das finanças. e das letras, e de qúase todos guardava a absoluta certeza de que lhes Infiltrava nalma o exclusivismo pessoalista dos sêres que vivem para o seu egoistiCQ . bem estar, indiferentes aos sofrimentos da plebe, supliciada, famélica, doente, des– preslvelmente atirada ao seu amargo destino pela desumanidade de seus dlri– g,;ntes . Leónidas desceu ao "bas-fond" da cidade , ingressou os arrabaldes es– consos, as vi.elas_ soturnas i, lôbregas, levado pela mão norteadora de Antenor Queiroz. Então, r.om o assombro estámpado na face angus tiada, ·r ol assistindo, dia a dia, o dramático desfilar de verdadeiros farrapos humanos·: -vultos maca– bros, esqueletos ambulantes, expressões mortas, corpos tatuad<>s de -pústulas, roidos pelos vermes, devorados pela sifilis, pela lepra e pela tuberculose. Era a sinistra procissão de um povo analfa beto, roto, faminto, doente, com as mãos mirradas erguidas em angustiosas suplicas. sem que os detentores dos poderres administrativos do pais, num gesto de humana piedade, lhe desse um pão para mitigar a sua grande fome, e um trapo para encobrir a sua completa nudez. Contudo nesse circulo dantesco. sepultura de vivos, vicejava e floria a planta pllmtada por Jesús - a vil'tude de ser bom. a resistir a todos os desesperantes infortunios, a todas as infames depravações . Essa planta floria n 'alma de Vl~or Marim. hom1im secular, a ,viver e ntre -alternativas de altos e baixos. de claros e escuros., !)ns- dla_s na guerra, outros na paz, sempre a evocar os marcantes episódios de sua longa existê ncia. que, era·. o poema de suas roseas alegrias e de suas n egras tristezas, . de sua ridente· roocidade e de .sua decrepitude infeliz . Tinha sido voluntário das aguerridas fontes do invicto general Osório. Muito mt:is t arde, j á c'lescrépito, já invalidado, a pátria o deixou a estender a mão des– carnada ao obulo da caridade pública. L eônidas e Antenor quedaram-s.e a escutar as tremendas acusações desse homem tremendo, inteligente e culto, cuja voz repercutia. cÓmo um clarim em campo de batalha. Senhor es, exclamou, nasci no Sl!rtão norte-riogra nderise, e na casa de meus pais h avia a perfeita n oção dos deveres _a executar, a honra da familia 8 detcndcr, os preceitos religiosos austeramente cumpridos. A nossa mo«:clda"d•
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0