Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

. , ... 120 'REVI~TA DA ACADEMIA PARAENSE D.E LETRAS Vinte oito anos ... Vê como o céu está cheio de estrelas . . . Mãe: Deixa qué a minha fronte fique muito tempo entre as tuas mãos amadas. Em tôda essa plangente sinfonia, em tôda essa ardente litania não está uma alma melancolica, pungindo de saudade, numa amargura que é bem essa grande tristeza de nós todos, essa tristeza de que fa– zemos e tiramos a nossa preocupação de contentamento ? Surtos, éstos do sangue mesclado, da gôta vermelha que se der– ramou, dinamizando a emoglobina es enchendo-a dessa agonia, que aquí e além explodem, dominando a nossa vontade !... Será isto um tormento ? Será isto uma consolação ? Desespero, tortura, aflição, o que é certo é que reside nisto o nosso encanto, a nossa felicidade, e é para nós um enternecimento ex– teriorizá-lo, gritá-lo a cantar, porque, de fato, nós, o brasileiro, somos a gente mais feliz da terra. Andamos, seguimos, como quer a poéta, por um caminho cheio de sol. ••• Peryllo D'Oliveira morreu. Esta página inédita foi-lhe dedicada em 1928. A êsse tempo êle já contava os dias. · A moléstia cruel derrancava-lhe o organismo. E êle, cheio de es- peranças subiu a Borborema. Naquele clíma, nas alturas daquelas mon– tanhas, êle· ouvia a voz de Augusto dos Anjos : Não ! J esús não morreu ! Êle vive na Serra Da Borborema, No ar de minha terra!" E alí, a chama de t ão lindo espírito se extinguiu, como a de uma candêa, em que o morrão sugasse todo o azeite vivificador. Deixa a mãezinha velha a bracejar no mundo. Era preciso am– pará-la. E os intelectuais da Paraíba, nosso berço comum, em grande movimento redentor, deram uma casa à mãe de Peryllo. Há muito eu queria dizer isto, proclamar êste gesto humanissimo do espírito moço da Parahiba, humano e cheio de uma grande expressão de solidariedade, lembrança e saudade ao poéta dos encantos dos "Caminhos Cheios de Sol". Pará-Belém. ./

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