Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953
REVISTA DA ACADÊMIA PARAENSE DE LETRAS 119 É o pórtico, a estrada da vida que o poéta vê banhada de luz e a indica como rota de felicidade, aonde tudo canta, v.endo somente cla– ridades na vida, vendo somente a alegria de viver. E vai cantando e vai filosofando : Uma folha de revista ilustrada vem rolando pelo chão molhado da rua .humilde, vem rolando arrast~da pelo vento. Uma folha de revista ilustrada talvez cheia de um grande pensamento de um pensamento que é vida e é flama e que se vai arrastando na lama ... Ironia cruel do vento vagabundo contra o que diz o pensamento . . . P alavra·s ... palavras ... leva-as o vento .. . e arrasta-as sôbre um chão imundo. Aquela página de revista ilustrada talvez contenha um grande pensamento. Qual foi·o artista de grande fama que poz um pouco de sua vida naquela página perdida que o vento arr asta na lama ? . • V~i o bardo por aí, a proclamar as festas da alma, a alegri·a da ex1stenc1a, sem presentir que o envolve uma doce tristeza, essa melan– colia, ê~se r ecolhimento da r aça, essa angústia, essa dolência em que todos nos nos abrigamos por um destino, que é mais uma fatalidade. Vejam esta meditação. Mãe: No dia de ontem fez vinte anos que o meu primeiro grito encheu tua vida, que o Teu amor se abriu como um céu cheio _de estrelas sôbre a minha vida (Assim. . . deixa ficar as Tuas mãos amadas sôbre os meus cabelos .. . ) Vinte oito an0s : Ah, como o céu está cheio de estrelas ! Ouve : Ontem, à noite, os meus amigos num assomo de gestos simultâneos por Ti erguer am no ar as suas taças. Disseram o Teu nome. E quando eu quís falar, alguma coisa docemente pousou sôbre os meus lábios comovidos. Por que foi que eu não pude dizer nada ? Oh, como o teu nome encheu o meu silêncio . . . Que cantiga era aquela que cantavas embalando o meu silêncio, o meu silêncio cheio de felicidade ? Não foi melhor qLe eu não dissese nada ?
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