Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LÉTRAS Do cortezão e da fidalgaria, Com o sangue fruste, africanista, De bambas e de heróis da Congolandia ! Ah ! a violência Do Destino, Casada aos ecos fervorosos do Poeta, Nessa interpelação, que aos céus subiu, E de quebrada em quebrada, Pelo ·Universo todo se ouviu: "Deus, oh, Deus "Onde estás que não respondes ? "Em que mundo, em que estrela tú te escondes, "Embuçado nos céus ? "Há dois mil anos te mandei meu grito, "Que, embalde, desde então, corre o Infinito ... "Aonde estás, Senhor Deus?" E respondestes ao clamor do Vate, Que era o clamor do coração De um povo inteiro, De uma vasta Nação, E gritastes, Senhor, como quem bate As portas de um trovão, A perdoar, sem briga, sem paixão: "Aqui me tens, sou teu, "Juiz para te ouvir e te atender, "Teu canto do Araponga, imprecadora, " Foi uma reza de quem viu sofrer. "Tua prece imperiosa escutada, "Vai se cumprir o Vaticínio, "Ouvi teu éco, a tua voz larvada, "E aos céus chegou também, numa agonia, "O verbo atroador de Patrocmio". . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . Tôda a voz do Brasil se alcandorou, Nas ressonâncias da voz de Pernambuco, A suplicar, como se alguém chamou, Nabuco ! Nabuco ! Nabuco ! Era a Torrente Redentora, que descia, Por todos os caminhos do Brasil. Oh Liberdade ! Oh, Sonho de Poesia, Das mil E uma noites que passaram ! Lentamente subiu, foi-se, o velário. .. E o longo dia crepusculário, Da longa noite dessa raça desgraçada, Teve arrebóis sem fim, de uma luz infinita .,.. Que iluminou o azul e se desfez alvorada, Numa alegria louca, de quem grita Sua própria alegria de viv~r. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ah ! aquêle tempo remançoso da Macama ! Aquêle tempo lá se foi e se ficou !... Boje lhe resta a triste fama, E a saudade, a morrer, de quem o amou . ..

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0