Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953
REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE b ETRAS INGLÊS DE SOUZA No dia 17 de setembro de 1920, ao tomar l•osse da cadeira até então ocupada por Inglês de Souza, na Academia Brasileira de Letras, o consagrado intelectual xa.'vier Marques pronunciou notável discurso, do qual extraimos o seguinte capitulo : Herculano Marcos Inglês de Souza, escritor e romancista, abriu outras e difcren~es vl:as à ntivid:ade sobrnda do seu espírito. Sua personalidade é um diamante de m ais faces . Nela se desdobram, em invejavel harmonia, os três aspecto; que lhe possibilitar11m o viver integralmente para as n ecessidades de sua época : as faculdades racionais do cultor da ciência, as energias efetivas do hoi:pem de ação e a potê ncia Imaginativa do homem de letrns. O campo de fenômenos f!Ue lhe forneceu o objetivo de conhecimento cientifico, o das ciên– cias mora is e sociais, particularmente do direito, proficiou-lhe a cultura slmul– tãnria ,da imaginação literá ria. Despontaram ao mesmo tempo o jurista e o nove– lista, enquanto pela virtude de um caráter simpático às soluções vitoriosas da prá– tica, êle confirmava o apoftegma do filósofo italiano : a vida não se encerra tõda eh na academia p ara os literatos, no fôro para os advogados. Era filho do desembarg11dor Marcos Antônio Rodrigues de Souza e D. Hennq·ueta Amália de Góis Brito Inglês, ambos de linhagem conspícua pela re– presentação intelectu?l e social. Nascido em 28 de dezembro de 1853 na antiga Provlncia do Pará, partiu com 11 anos de idade para o Maranhão, onde esteve internàdo em uma casa de ensino secundá rio. Passou ao Rio e do Rio a Per– nambuco, em cuja Faculdad.c de Dl reito se matriculou e estudou até o quarto ano. O último cursou-o na F aculdade de S . Paulo, ai recebendo o grá u de ba– charel em •1876. Tinha então vinte o três a nos de idade. Suas aptidões j á expe– J: erim4lntadas durante o curso, nos debates pela imprensa e nos comicios polltl– cos, resgavam-lhe esplendidos horizontes. O labor prá tico arrebatou-o desde logo, mas ~em lhe estagnar n a alma I\S fontes do idealismo p or qualquer espe– cialização demas iado absorvente. A sua vida, aliás, vai ser a té o fim a demons·– tração de um raro paralelismo : a conjunção do estudo e do trabalho, das idéas e dns aplicações ; uma razão lúcida pa ra conceber e um pulso viril para reali– zar. Coube-lhe, com efeito, em corespondência com todos os seus principios, afirmar-se a-la-par na ordem dos fatos concretos. Advogado durante cê rca de qua renta a nos, Inglês de Souza não çonheceu a estreiteza e a secura da Inteligência profissional. Uma das vantagens dessa profissão, disse, falando 110 advogados, o presidente da República Francesa. Raymond Poinc:aré, está em oferecer aos que adotam uma tarefa social sem lhes reshingir O horizonte do pensam ento. Todavia de que intima expansibilidade n ão h ave.rá mis}ér cada dia O esplrito, a!.im de reagir contra o automatismo in– vasor que, pela repetição di1s fórm~las, do proc~sso, dos estilos forenses, tendi~ fatalmente encarcerá -lo a subtrair-lhe a elasticidade, a encurtar-lhe os rem gios ? E to:o oficio, não h á dúvida , desde que pratic!ldo com de~icação e fund: compenetração do dever, importa certa uniformidade de mov1me~tos e um correlati va incapacidade de adaptação a novos_ rltm~s. N~ caso do ilustre para– ense é de cre r j á lhe circulasse na organlzaçao mmta seiva generosa antes da– quela com nue ns estudos mora is contlnuem fecund~r '.I noss~ vid~ interior e a cujb efeito ~utriente se desenvolve no _homem o interêsse pelas ca usas que o libertam do pequeno circulo das p reocupac;ões rasteiras, ma teriais e egoísticas. A advocaci'a não foi para êle a to quasi_maquin~I que se passa entre a banca ~ o fõro, entre-a clientela é O mundo judiciário ; nao foi -a rotina lucrativa que cen-
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