Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA DA AC~..DF.MlA PARAENSE D~ LETRAS !09 ' E o nosso venerando deu-lhe um relógio, blbelõs, tempo. e intrépido Romeu presenteou-lhe uma sombrinha, que custaram mais de dois contos de réis, naquele Era-lhe impossível fugir á obcessão daquele sentimento. Amava com entusiasmo e crença, ardorosamente. Diante de sua deusa, dava ao corpo a atitude estudada de . um momento idilico. ' Pintou as s obrancelhas, dizia boba– gens, fazia planos, agasalhava os mesmissimos projetos que tanto achara ridf– cnlc>s cp.1ando em pleno· vigor da mocidade. Só uma vez teve noção da precariedade dos seus meios. Aquilo não po– dia durar. Ficou atônito, pert11rbado, ante o próprio pensamento, que nem a estátua da Dúvida p,alrando sôbre o irremediável e o efêmero . Foi ver Glorinha . Glorinha, rindo a propósito de nada, e mastigando "chiclets", como de _postume, falou-lhe de mil e um assuntos engraçados. E Se– rapião, sério, casmurro, indõcil, fazia observações axiomáticas incompreen– síveis .ao rudimentatismo da garota . - Puxa, Ser11pião ! Você está chato, chato ! :e, êle estava c)l :P.to . Não- querl!I nada com a alegria. Voltou ao quarto e escreveu um Sonefõ "Versos para o teu corpo de sereia". Foi bom : Glorinha gostou tmensamente. Riu. Disse que o verso era multo chiquezlnho. c;iuerl!I outro. itlé perdoou o julgamento prosaico e escreveu os "Versos para os teus cabelos louros". Logo depois, nascia "Um soneto para os teus olhos azuis". ' , Glorlnha . agradeceu, meiga e afetuosa, mas explorando . . . explorando e rindo lntim!lmente às extr:w?.gâncias líricas do velho. Até que um dl!I, Glorinha sentindo uma dôr de cabeça danada - dia so– fria de enxaqueca - resolveu "dar o íóra" no Seraplão. J!:le ainda pediu. im.plorou, mas a perversazinha estava irredutível. Zom– bava de su:i lµade com alusões causticantes, mais aumentando o desespêro, a angústia infinita do "balzaqueanÓ". Compreendendo afinal que nada valiam as suas súplicas, Seraplão dedi– cou-lhe um verso margurado : "Motivos de um sonho que passou•;__ E, desiludi– do, com a inspiração em cinzas, ainda pôde escrever o último soneto. " Es– quecer" . .. - Pois, foi, meu amigo, _ Serapião soluça quando termina de contar a história, - o meu amor "durou" exatamente, cinco sonetos .. . . l , ..

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