Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

itVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRA§ Adeante, em frente o Hidroterápico, já se achava iluminada e cheia de galhardetes, a "Gruta Jerusalem", ponto de concentração dos blocos foliões, e onde havia bailes em que imperava o meretricio. De quanto em vez, subia ao ar a algazarra dos "cordões" que passavam a miúde, indo e vindo daquêle Umarizal, quando ainda o bonde da "22" não havia sido inaugurado - subúrbio remoto da "urbs", e arrabalde onde a plebe havia assentado os seus arraiais. O Umarizal,-passando a estrada 2 de Dezembro, (Generalíssimo), para cima, era assim como unia grande "favela", bairro esconso, como Canudos ou Gliamá dê hoje. ·Recanto pref-erido pelos farristas e sere– natfstas, refúgio do crime. Era ariscãda a aventura por aquelas para– ge_ns, onde os conflitos eram frequentes. E os "cordões" passavam cantando: "Os Caiadores", a "Caninha Yel'de" 1 o "Cruzador Tupí, o "Timbir-a" e outros, cujas toadas éônheci– ãás·faziam vibrar o póvo da cidade. Por êsse tempo é que trazidas pela companhia de operetas de Dplor~s· Rentine, começaram a ser conh,e,cidas ein Belém, as músicas da "Viuva Alegre", "Sonho de Valsa", Luxemburgo", e outras que desde 1905 vinham enlevando as cidades da velha Europa. · O Dr. João Coelho que já estava um ano no Govêrno do Estado contratara os, serviços do gránde Osvaldo Cruz para sanear Belém, o que de fato sucedeu. O Senador Antônio Lemos, ainda com todo o seu poêlerio, começava a sentir as primeiras hostilidades da política gover– nàmental." A. borracha naquele ano deu o seu maior preço, vinté mil ,r'éis o quil:õ, que, cpmparados com o dinheiro de hoje 1 podem equivale1· a seis vezes mais, considerando que os vinte mil reis daquêle tempo 'éê>mpravam cousas·, que hoje, cem cruzeiros não compram. . . . A cornucopia das graças parecià ter chovido sôbre o comércio pa.iaense, enriqueêendo firmas, da noite para o dia. · O novo cais da "Port of Pará" estava sendo entregue à serven~ ti.a i;>úbli_ca, prosseguindo aCiluela companhia na sua tarefa de demolição dos tra1vches. CARNAVAL . Aluísio chegou à Praça-iusto Chermont e caminhando um pouco, defrontou o clube, mesmo na visinanca do quartel do 115. 0 batalhão de infantaria. ·A 'casa ainda lá está, com suas seis janelas protuberantes, de. s-ac'adas,' fachadas de azulejos, e a porta no meio. ' ' Ehorme quntidade de povo estacionàva em frente à galharda so- ' ciedaçle dansante, donde a luz jorrava como dum incêndio, divisando-se entre os grupos, os chamados ''habités" do sereno, pela sua pontuali– dade infalível em frente aos bailes, nunca os frequentando. · E fo~ entrando como quem entr'a em país conquistado, distribuin- do , sQrrísos, adeuzinhos e apêrtos de mão aos conhecidos que o chamavam. · A casa estava cheia, e ruidosa· era a animação. Cornetas, gaitas, guisos, pandeiros, apitos e o vozerio en– surdeciam. · A orquestra· com bateria, pois ainda não existia o "jazz", dava os seus acordes, ondé o contrabasso figurava com relêvo. Mergulhando no borborinho, atravessou a varanda, já repleta duma .aristocrática assistência de senhorinhas formosas, e achou-se na puxada, entre os "cavernas'', quase todos conhecidos e aglomerados em gtllpos. O primeiro quarto era a toilete das moças ,o segundo, chape- 1aria e agasalhos ; os terceiro e quarto serviam de botequim e bufê. . · · Viam-se ali os mais elegantes bailistas de Belém. Rapazes nó'– táveis, tipos famosos. Todos trajando casemira : smokings ou ternos de c·ô'r. o · fato branco ainda não era usado nas festas, por rapazes gtan:– finos. Os ternos de linho " H . J . " , por serem baratos, eram geral– mente usado!i pelos pretos ou cafusos, nos seus "forrós" dos arrabaldes, oride os dançarinos masculinos rebrilhavam retintos, como envolvidos em cartolina. i

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