Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA DA t,CADEMIA PARAENSE DE LETRAS um certo congestionamento. A pele fina, rósea. Cousa sem importân – cia. 11:le viu, entretanto, que eu obser va va . Fez um gest o e acrescentou -Piúns. Mosquitos ... Sorrimos. Todos nós eramos vítiinas dêles. Embora a casa t ela- da, um ou outro tinha o géito de penetrar. • Nessa altura , já insensivelmente, falávamos em frances, - tal– vez para a copeira não nqs entender, ou acompanhar a conver~a. O Dr. Jorge Monteiro da Silva Car valho - era o seu nome - contmuou. A palestra viva, cintilante. Tinha o segredo de saber contar as boas ane– dotas. Uma ou outra maliciosa . . . Ia gostando. Man~ei servir ~~pois ~m Sauterne, um velho Chambertain. A sobremesa, ve10 uma Viuva Cllc- qÜ9t "frappé". . . · Entendiamo-nos admiravelmente. Transformara-se. Era já agora, a rrtulher de salão, com um homem elegante e irresistível ao lado. Ne– nhul:n gésto, um olhar atrevido. Nada. Irrepreensível. .Depois, continu5>u a c<ilhversar . Falava bem. Muitas das minhas amizades eram tambem suas. b mesmo ambiente. -- Eu me sentia outra, doutor, disse. Tinha a idéia de qµe era 11ma creatura só, independente. Naquela longitude, quasi dentro da floresta, na mata, no pequeno salão, com um jantar assim, com um homem assim ... - Piano ? Sim, Mozart - respondeu-me. O diabólico Mozar t ! - O relógio gr ande bateu meia-noite. Fi– camos admirados. Nem t inbamos sentido as horas. Despedimo-nos. Hou– ve apenas pressão de mãos e um olhar agudo e penetrante como se fosse lamina de punhal. Nem uma palavr a. Nada. Beijou-me mais demor adamente a mão. -Agradecimentos. Felicidades. -Boa y iagem ! Devíamos ter ficado aí. Era O nosso dever a nossa obrigação. Fui para a minha alcôva desey,ta. Devia e; tar ligeiramente febril. Recostei-me no divan fôfo e lar go, de pelúcia côr de ouro. Ab!'Í um li– vro. Era _de Anatole F rance. Fechei-o. Estava enervada. Pensei . .. , Foi nesse momento precisamente, nessa "Hora do Diabo" que a por ta da alcôva se descerrou cautelosamente. Luz esbatida . Era "êle" . Covardemente, fingi que dormia Aoroximou-se de mim. Estava quasi junto, a três pa_lmos:, Sentia o se"u p 0 erf~me. Abri os olhos. . Depois be~Jou-me a mão, e saiu. Não houve uma so palavra . Apenas o olhar, o gesto, a atitude. O crime. Partiu de madrugada, Nunca ma is vi e·sse homem o pai do meu -LEPRA. • ' E saiu~ d,eixando a moça em prantos. . A molestia_ cruel não é contagiosa. Mas acoF1teceu. f ilho.•Ar:ios ? epo1s, em Manáus, convers·ando numa roda elegante ouví referenc11!-s aquele nome - Jorge Carvalho ... sofria de hediondo mal. Estremeci .. . Retomando a narração : .- Semanas depois chegava o meu marido. Nada lhe disse, nada lhe d1sserqm dessa v isita sem importância de horas. Davamas pousada a tanta gente ! ' . Nunca o meu esposo per cebeu a- tragédia . Alegrou-se como uma cr eança quando, meses depois eu lhe comuniquei que ia ser mãe. Que júbilo ! ' O Doutor franziu a tésta. O olhar sevéro. Levantou-se. Despe– dia-se. - E então, doutor, perguntou aflita, o seu dia,gnóstico1

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