Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

'!ll! tele,:!rama de Nova-York sôhre os seus nef!ócios. Exigiam que parti'sse, 110 - priJn~iro v.~pôr. : Teria de ,Se movimentar muito. ' Alguns Toilhares de c-pntos em jogo. Aconselhei-o que fôsse naquela hora, poi$' havfa .fim vapor no porto rumo a Manáus. • · · '.. ,., · Como seria possível eu segui-lo, aoesar de todo o meu desejo ? Havia apenas meia hora para me aprontar .. . E ·em Nova-Yórlé meu esposo contava liquidar seus ne1rncios em menos de uma semana. e vol– taria loiio, por causa da safra. Viajou de avião, Manaus - New-York.·.· Fiquei. Os n egocios - o senhor sabe como são os negocios; êiisse - retardaram-no na América do- Norte mais de ·três mêses. Eu, meu amigo, arrependida de não ter ido. Tratando com seringueiros, acompa- nhando, de perto os nossos .interesses. Entediada. · ' ' · Fez a moça uma longa pausa, par ece que alheada de tudô, o pen- samento distante. · · . Eu aguardava ancioso. Minutos depois continuou; os olhosffacri- meJando: .: - Uma ta;de o sino de nossa .capelinha dobrava a ave-maria. Estava na varanda olhando aquela hora triste. Ener vada com a S'olidão. Era só. Não tinha com quem conversar , falar. trocar ideias. -- f;.s empre– gada, gente do sítio, caboclas que tudo ignoravam. Continuava a olhar. . . De momento, ·uma canôa encostou na nossa fazenda. -Saltou um hof!lem, com um bagageiro e maletas. Chapéu desabá do.. Botàs"hl– tas. SuJo. A barba por fazer ,há dias. Não lhe dei importânciá. Minutos depois aproximav a-se o capataz : · · · · . - Sf:nhora, há aí um homem, um engenheiro. que pede pousada ate a~anha de madrugada, quando passe o vapôr dele, para Manáüs: 1 Ç) m~u aJudante conhece-o do alto Rio Negro, e diz que é um homem 'di- re1to. . . Contrariada; r espondi-lhe. Dê-l he o quar to dos hóspedes, o maior. Prevma que o jantar é às 20 horas. ' · Não_pensei mais no caso, prosseguiu. Apenas quando fui me pre– para_:c vesti um .vestido moder no, muito simples e elegant~, que o meu man~o me mandára de Nova York e ainda não estr eiado. Enfeitei-me. Garridice de mulher sem inferioridad·es mentais. Depois, aquela, sujei– ra de homem não despertaria a a·t encão nem duma profissional do amôr !. . . · . . Fui ~ara o nosso salão pequeno, contíguo ao de _jantar . Lí u~a pa~ma de h v ro, uma revista. Olhei o r elógio. Pouco mais de 19 e -meia. D_ei algu~as passadas. Abri O piano, e comecei a dedilhar o meu Cho- pm, maciamente, um dos seus lindos Noturnos. · ' . Pouco depois pressenti, senti, q ue· h avia alguém .perto. de mim. Devia ser o homem , 0 engenheiro. Continuei_a tocar, sem me voltar. 1 O Noturno acabou. Levantei-me. Olhei o home~- Q~e .surpresa . Uma creatura foi:te, alta, de gr à.n~e simpatia,.o_olh~r mteligent_e e p e– netrante, a car a r apada admiravelmente .vestido com um smokmg tal- vez londrino. ' Sorri1;1_ levemente, pois compreender a a minha surp1\isa., . - Be1Jou-me levemente a m ão que lhe estendera. Agradeceu m~.11t? a hospitalidade, embora por uma noite. E vi no seu olhar por mmlía yez a surpresa que lhe causava encontrar no i;undo, da flore,sta uma flor da civilização. . . Enquanto servíamos um aperitivo, .êle con_ver sou. · Er a engenheiro civil educara-se em P an s, e demar cava terras. Tinha ?timos contratos, d~das as suas r elações. Seis meses delicios~s de P a~1s, meses infernais nos altos r ios, demarcando terras. O Jurua, o ~~rus, o Rio Negro, 0 l\fad:ir a, 0 Solimões, o Acr e, tu~o lhe era fa– rruhar. I~pal~~~~o dyas ou t:rês vezes. Curara-se. Notei, nas orelhas

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0