Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

1)9 lt,EV'.IS1'A DA ACA.OEMIA PAR~NSE DE LZ'rrtAS Raca bôa e forte. O seu pai e o seu avô foram além dos 70. A mãe moTrera dum desastre de automóvel. A avó, aos 101 anos, . ainda lia e costurava. Gente sadía. , Dias êiepois conversava disfarcadamente com a mãe do garôto. a senhora Beatriz Silva Bandeira Ribeiro. Que linda moça ! Teria ao tem– 'po 28 ânos talvez. ·Casára-se aos 20. mas representava no máximo 2_4, As mulheres são assim - ou envelhecem rapidamente e aos 30 sao creaturas gastas. ou vão' até aos 50 com uma aperência de jovens. Estas, infelizMePte, são por Pxceção. Contam-se. . O Dr. Roberto fez uma pausa. Acendeu novo charuto, e acompa– nhotJ com o olhar o ondear da primeira fumaca. Todos nós eramos a~en– ção, e não quizemos interromper a sua narrativa, com perguntas afmal desnecessárias, ou comentários impertinentes. Continuou : -Dona Beatriz era moc;a, inteligente e viajada. Famíl/a de pos– ses. Educára-se na Suíça, num c·olégio de Lausane, e conclu1do o cur– so, voltára para a sua terra natal, Manáus. Era duma rara elegáncia, e duma Palestra sutil. Os seus vestidos vinham diretamente de Paris, "chez Drecoll". Não se casára por amôr, e sim por simpatia.. Achara na– quele homem o típo do homem bom, simpático sem ser bomto, educado, rico. Afeiçoara-se. Era cortejada por todos os "leões" provincianos ou não província– .nos, que passavam pela capital amozonense. Era séria, rigorosamente honesta. Dessas mulheres que não pecam nem por obras nem por pen- samento. Há algumas, assim. . Dona Beatriz.acompanhava O marido, todos os anos, aos seus vas– tos seringais no Rio Juruá. Passava lá com êle de três a quatro meses, na épora das sáfras e da fartura da b~rracha. ' O seu sítio, a sua fazenda a sua casa ou que outro nome se pos– sa dar a vivenda, era um· amôr.' Tinha todd o conforto, - · jardim, par– que - dois pavimentos. Um piano uma grande vitróla, quadros. Pas– s~va-se do _rio, da floresta, para u~ deslumbramento. Elegância,. co~o– d1dade. Flores,-rosas, cravos, margaridas, dália, enchendo os Jarroes– das salas, sempre renovadas as flôres. O casal vivia admirávelmente bem e quando regressava a Ma– náus trazia sempre algumas centenas de ~ontos de réis. Preciso saber, Dona Beatriz disse-lhe, tôdas as verdades; tôdas s~bre a sua vida, e a do seu filho. 'o seu filhinho, o Augusto, é um me– nino forte e aparentemente sadío. o seu marido e a senhora são dois belos expoentes dn raça. Estudei a moléstia do Augusto, fiz as pesqui– zas e os e~~mes possíveis, e entretanto não consigo descobrir o modo por que adqu1nu a moléstia. Tudo na vida tem uma razão. -G_rave. ª· molésti_a? perguntou aflita. -Sim seria, grav1ssima. · · Dona Beatriz fi'cara estonteada estarrecida. A fisionomia con– traira-se e dos seus lindos olhos caíam' em borbotões as lagrimas. Apro– vejtei o ensejo do médico, de psicologo, de amig<;>, e segurando-lhe as maos geladas, olhando-a de frente dominando-a disse-lhe : -Vamos, Diga-me. É u1~ segredo de morte, profissional. Ha, houv~ de certo algo, qu'e me escapa. Escute bem, - trata-se da vida do seu filho. Ela d_eixou-se derrear no divan largo e espaçoso, como um mulam– bo. Tre1:11a. E chorando, abatida murmurou a historia horrível : -Sim meu amigo, há um crin'.ie, uma tragédia. Eu estava casada há pouco, r ecen!emente. Foi o primeiro ano que fômos para o Rio Juruá. Tudo tudo para mim era surpresa e encanto · Tudo novo, paisagem e aspéctos. O sitio era tô~a !-'ma. bel1;_za dentro d~m grande confôrt? de cidade mo– derna. Passei la dois meses com meu espôso, quando este recebeu um

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