Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953
4 REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS . tempo, vier a mais da libe,raJidade com q ue emprestava ou dava livros do que, verdad eir amente da sua poesia, de fôlego, cmto. ' . U~ livro emprestado deve-se . cons iderar, .iá. pela. metade, per- clido, opina -Uzane. O emprestador .mais probo - continua este escritor - acostuma-se a vê-lo, traslada d e um dia para outro, sempre indefinido a ·restitui~ão e chega a arquitetar, para cohonestar a larapiagem, a se~ guinte moral canhestra : "Êste livro poderia ser meu .. . devia ser meu . . . é meu". A quem lhe pedia um livro, Scaliger r espondia sistemàticamente : "Ide comprá-lo". E é bem a fórmula. Quem gosta de lêr, deve adqui– rir à sua custa, não sómen t e o livro, mas o jornal, per.dendo o hábito de o lêr, do barbeiro, do engraxador, do merceeiro ou do vizinho do quarteirão. Fui, durante alguns anos dii minha vida, a vítima dos emprésti– mos sem restituição, e peha é. que nunca me ocorresse fazer com os em- prestadores infiéis o que nos conta Cim do lexicólogo Genin. , . Êste {)roporcionara os dois primeiros volumes de uma obra inglesa a um dos seus colegas da Faculdade de Strasburgo, e, voltando a París, esperou durante algum ·t empo que lhes fôssem r estituídos. Debalde aguardou e debalde solicitou. Afinal, perdendo a paciência r emeteu-lhe pelo Correio os dois últimos tomos, fazendo-os acompanhar dêste bilhete : "Com a remessa d êstes dois volumes ao menos um de nós t er á a obra completa. Sereis vós, porque vós não desejais que seja eu , o que, entre tanto, parecia mais i:iatural e mais justo". . ' Petrarca, o grande ooeta da Renascença lta~1ana, de cujo amor a Laura brotou a efusão lírica que r enovçu .a poesia subjetiva univer– sal também ~agou o seu tributo aos emprestrmos, cedendo a seu mestre da 'gramática o tratado "De glóriB:", de C~sero, que foi_ter aos "bouqui– nistes" do século XIV, onde levou 1!-'remed1avel descammho, ficando per– dido para o c;lono e pa ra a postendade, como remata o narrador dêste episódio. . Goethe,. Victor Cousin, Villemam, ~ omonte. nunca devolviam os livros gue tomavam aos camaradas. Os arrugos de Eckermann e de Am– pere nao se apropriavam somente dos livros, mas também dos quadros e d esenhos que lhes facultavam. . O empréstimo aos -!J.omens e-nos. entr~tanto,_menos prejudicial do q ue aguêle que fazemos as mulher es. A cons1der açao destas pelos livros é inferior àquela que dispensam ao gra~po dos _seus cabelos. Mas, agora r ep aro que me excedi e que e necessário pôr O ponto final neste desabafo. 4ssim estava o Teatro da Paz na radiosa manhã de 3 de maio do corrente ?.no, qu ~.ndo a Academia Paraense de Let ras realizou uma sessão solen e comemora– tLva ao 53,o· aniversário de sua fundação. como se vê o Teatro estava a cunha, num atestado eloquente do conceito 11 ue o Sllogeu paraense desfruta em tôdas as camadas sociais de Belém,
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