Revista da Academia Paraense de Letras 1968

90 STLVIO MEIRA ramente no Destino dos homens, como o fizemos no pórtico desta oração. Há r,lguns exemplos semelhantes, não iguais, como os de Hum– berto de Campos e de Artur Azevedo, aquêle paupérrimo menino de Parnaíba, no Piauí e êste modesto empregado de um armazém da Praia Grande, no Maranhão, ambos empregados de balcão, a conta– rem garrafas e a venderem gêneros de tôda espécie. O contacto com a vida material mais e mais apura a reação do bom gôsto e mais aprimora a sensibilidade dêsses pobrezinhos infantes que se fazem grandes pelo talento. E quís ainda o Destino que Josué ocupasse a cadeira de que é patrono Artur Azevedo. Disse Viriato Correia, saudando Josué: " ...na Academia a vida começa aos quarenta anos. Os que aqui entraram com idade menor que a vossa representam a minoria. São muito poucos, e servem para mostrar que, nesta casa, apesar dos cabelos brancos dos homens que a compõem, tem-se confiança e tem-se fé na mocidade, desde que ela venha carregada de brilho, de flôres e de frutos como a vossa". O destino conduziu ,Josué às alturas, mas soube êle conservar sempre a pureza da simplicidade originária. que mais exorta o seu caráter, não se deixando embriagar pela vaidade nem empolgar pelo brilho das glórias humanas. lntimamente é o mesmo homem de trin– ta anos atrás, mais purificado pela idade, como os perfumes e os li– côres que se aperfeiçoam com o número dos anos ou com mais brilho como os seixos que rolam pelas estradas ásperas. Por isso pôde di· zer, em seu discurso de posse: ;'Mas não necessito ser outro, sob as galas desta farda. Nem mudar de idéias, com o adôrno dêste cha– péu. Nem me julgar mosqueteiro das musas, com esta espada na cin– ta. Tenho de ser eu próprio o que sou e o que fuí ... " Disse ainda Josué : "Ensinou-me um dos meus mestres de filo– sofia que a dificuldade em ser modesto está na circunstância d~ que não mais o somos, desde que o confessamos". A sua modéstia está nas suas atitudes, na sua obra, no seu es– tilo, impregna tôda a sua existência, é o oxigênio em que tem ori– gem e vida as personagens que movimenta em seus romances. • * • Quis o destino, senhoras e senhores, que m: caminhos de ,fosué Montello se aproximassem dos meus por algumas vêzes, nestes últi– mos trinta anos. As grandes estradas, como a sua, também se en– contram com as veredas nos sertões. Pela primeira vez, por volta de 1938, quando se deslocou do Maranhão, para estudar em BelE;m, fomos colegas na 1.• série do curso pré-jurídico, no Ginásio Paes de Carvalho. - - - - - - - - - - - - - ---- - o

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0