Revista da Academia Paraense de Letras 1968

88 SlLVIO MEIRA "Depuis le premier jour de la création Les pieds lourds et puissants de chaque Destinée. Pesaient sur cheqi4e tête et wr toute action". Se fôsse verdad_e, como diz Vigny, que "Chaque front se cour– bait et traçait sa journée", estaria resolvido o problema pelo livre arbítrio. Mas é êsse mesmo poeta, que ao fim de seu original poe– ma, exclama dirigindo-se ao Senhor: "Que l'ombre des Destins, Seign.eur, n'oppose plus, A nos belles ardeurs une immuable entrave, A no3 efforts sans fin des coups inattendus ! O sujer d'epouvanre à troubler le plus brave ! Question sans reponre ou vos saints se sont tua! O mystere ! ô tourment de l'dme forte el grave!" Mistério e tormento da alma, o Destino guia nossos passos, muitas vêzes, por alguns caminhos que jamais pretendíamos percor– rer. Leva-nos a regiões ignotas, arrasta-nos de um momento para ou– tro a culminâncias inesperadas ou nos projeta em vales profundos e jamais sonhados. E a nossa pergunta, como a de Vigny, é eterna : "Notre mot eternel est-il : C'Jl:tait 11:crit ?" Estaria escrito o destino de Josué Montello, filho de modesto comerciante de São Luís do Maranhão, proprietário de uma loja de sapatos, à rua dos Remédios ? Seu genitor, que era pastor protestante, aspira"'., ver o filho no mesmo caminho, a pregar da tribuna aos fiéis a verdade expres– sa nos textos bíblicos. Do contacto com a Bíblia veio-lhe a inspiração poética e veio-lhe também a descrença em algumas supostas verda– des pregadas pelo dedícado pastor, que logo ficou surprêso, ante as perguntas que o menino Josué fazia em pleno templo, escandalizan– do pastores e afugentando ovelhas. O rebanho poderia tresmalhar-se, estourar como a boiada desobediente à voz de comando dos seus lí– deres espirituais. E dentro da grandeza de seu coração, o pai de Jo– sué desistiu de seu intento anterior, não quis coagir o filho e deu– lhe ampla liberdade para escolher a religião que bem entendesse. Ti– rou-o do templo e levou-o para a pequena loja de sapatos. Passou de um templo a outro. Descreve Viriato Corrêa, no discurso-homenagem a Josué Mon– tello perante a Academia Brasileira de Letras, o que foi o menino co– merciante. Em vez de vender a mercadoria passava os dias a ler, por trás do balcão, absorto nas aventuras do Dom Quixote de la Man-

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