Revista da Academia Paraense de Letras 1968
86 SÍLVIO MEIRA Vieram-nos naturalmente ao pensamento tôdas essas idéias fi. losóficas ao sermos escolhidos para saudar, nesta sessão da Acade– mia Paraense de Letras - minhas senhoras e meus senhores - a figura para nós sempre benvinda do escritor Josué Montello. Ninguém, mais do que êle, poderá levantar os olhos para o Al– to, para os degraus do Paraíso, e indagar de Deus, do Criador ou do Supremo Arquiteto - com licença do nosso Presidente De Campos Ribeiro - o que é o Destino. Narra eminente escritor que certa vez, ao entrevistar Stalin, perguntou-lhe se acreditava no Destino. Com uma gargalhada o di– tador russo limitou-se a exclamar em alemão : - Schicksal ! Schick– sal ! Destino ! Destino ! e assim resumiu tôda a sua descrença. Goethe preferia não dar nomes. Segu_ia o principio mais tarde posto singelamente nos versos do nosso temo poeta, de que "a pala– vra pesada abafa a idéia leve". O perfume e o clarão, que refulgem e voam no pensamento, ficam prêsos, escravizados, subjugados à for– ma humana fria e espessa. Por isso quando Margarida pergunta a Fausto : "So glaubst du nicht ?" Então, não crês? e repete, "Glaubst du an Gott ?", isto é, "Crês em Deus?", responde o poeta alemão pela boca de sua estra– nha personagem. Nein Liebchen, wer darf sagen. Ich glaub an Gott? Ao que Margarida mais uma vez retruca. So glaubst du nicht Surge então a resposta fausteana. Wer darf ihn nennen? Quem ousará expressá-lo ? Quem poderá afirmá-lo ? - S6 nele tenho fé ? Quem também sentirá E insano afirmará : - Ne/,e não acredito ! O que criou o Infinito O que o Todo sustenM Tudo alcança a aviventa A ti, a mim, a si mesmo tão alenta ? O céu também não arqueia sôblfe n6s na Altura, Enquanto a terra aqui se estende, firme e dura? Se elevam e nos c-0111emplam com seus olhos baco:I' E amaráveis esfflêlas brilham 110s espaços. Não mergulham os meus olhos nos- ~us olhos puros ? E em meio a tais apuros Tudo vai nos levando Para o teu rosto e coração tão brando ?
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