Revista da Academia Paraense de Letras 1968

Sílvio Meira Saúda Josué Montello Damos abaixo o discurso com que o prof. Silvio Meira saudou, na Academia Para:nse de Letras, o escritor Josué Montei/o. Quem poderá explicar, em seus mistérios inescrustáveis, em suas surpresas, ora boas, ora más, em suas grandezas e desfalecimentos, a fôrça do Destino ? Por maiores que sejam os esforços dos homens na sua ânsia eterna de devassar o indevassável ou de ultrapassar os limites do tem– po e do espaço, sempre resultam em vão as tentativas no sentido de aclarar, ao menos em parte, as sendas obscuras por onde se condu– zem as vidas humanas. Esbarramos diante de muralhas intransponíveis opostas ao pensamento. Quer se considere o mundo, tomando por princípio 0 dualismo - matéria e espirita -, que nos vem desde os gregos; quer se o conceba como um todo, o monismo, num panteísmo à maneira Spinoza, em sua "Ethica ordine geometrico demonstrata"; quer se aceite a terceira solução, do dualismo matéria e espírito e ainda um estranho elemento a dar explicação às coisas vivas, há sempre ao fim de tantos caminhos, um imenso muro das lamentações, onde desapa– recem tôdas as pretensões humanas, onde se igualam tõdas as vaida– des, onde sucumbem todos os ímpetos. Sem poder aceitar a "filoso– fia do desespêro" a que se refere Farias Brito, nem sequer admitem os homens com segurança a existência de uma ou duas portas, ao fim da estrada, uma que leve ao Céu e outra que conduza ao Inferno, como queria o numeroso e fecundo poeta florentino, porta esta onde se leia a terrível inscrição que anuncia a existência da città dolente, onde só palpita o eterno dolore, e por trás da qual ainda tem vida depois da morte a perdut.'ta gente. A própria somma sapienza. e il primo amore que nós seres humanos concebemos ou a síntese de tu• do o que é poder, a divina. potestà, a "Luz" de Farias de Brito, a pri– meira causa., a primeira fôrça ou ação Um Anfang war die Tat), são concepções que a filosofia e a ciência ainda não aceitam paclfica– mrnte, em todos os setõres de investigação do Infinito. Só a fé, só ela abre portas além dessas fronteiras.

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