Revista da Academia Paraense de Letras 1968

t, JOSU~ MONTELLO NA. ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS 83 de poete., um pouco mais magro, cantor lírico da "gostosa Belém de seu tempo", hoje convertida para êl_e na "Gostosa Belém de Outrora". Fui ontem à redação da "Folha do Norte", e o que busquei, no alto da escada que leva à sala da redação, foi o velho polemista inex:– cedfvel que se chamou Paulo Maranhão, único herdeiro legitimo, nes– te lado do Continente, da pena insubmissa e viril com que Camilo Castelo Branco escreveu o seu "Modêlo de Polêmica Portuguêsa". Onde o velho Remigio Fernandez ? E o querido Paulo Eleu– tério? Recusei-me a dizer como Flaubert, no final de "Salambõ": "Mortos, todos mortos". Na verdade: vivos, todos vivos, como nas minhas lembranças e na minha admiração, iluminados por minha memória, irredutíveis à ação voraz do tempo. Os moços e as moças de meu tempo são hoje figuras austeras, conspícuas ou circunspectas, mas o certo é que com elas, minha sau– .dade vai aos velhos bailes da Assembléia Parãense, saio ao largo da bafa num barco do Clube do Remo, e vejo passar o Círio de Nazaré estrelado de velas acesas. De tôdas as minhas evocações, a· que mais me revolve a ter– nura, quase a ponto de me encher os olhos de água, é a visão retros– pectiva do Ginásio Paes de Carvalho. Vejo o seu gordo diretor a abrir– me os braços acolhedores, dou com o velho Avertano Rocha a expli– car-me Espinoza e Hegel, e recomponhd a figura encanecida de Helio– doro de Brito, mestre jamais esquecido e aos quais ainda sou deve– dor - pelo muito que me ensinaram. Do Dr. Maia, que me fêz ganhar aqui um concurso de oratória entre estudantes, pude ainda ver a figura combativa no seu reti~~ ~a Cidade Velha - o espírito lúcido agrilhoado pela idade na suJeiçao da condiç~o humana. Quando chamo por meus antigos colegas, adolescentes como eu e debaixo da mesma farda, ouço a resposta de provectos avós, já de cabelos grisalhos, como os meus. Cada um de nós seguiu o seu des– tino, realizou a sua vida, vários já sobrevivem apenas em nossas re– miniscências. Lembro-me de todos, a todos guardo comigo no meu mundo de lembranças. Cerro os olhos, vejo-os como eram, sinto que O te~– po não poderá jamais com a fôrça de ressurreição que têm as mi– nhas saudades, e graças às quais recomponho os dias perdidos e ª juventude de todos os companheiros. Andei agora a admirar a Belém nova, que se ampliou na ~i– nha ausência, e a verdade é que, felizmente para mim, a nova nao desvaneceu ou apagou a antiga - antes se conciliaram no mesmo carinho enternecido. Ontem, ao saber qµe a Academia me preparava esta festa, fi- quei inclinado a falar-vos de improviso, cedendo às emoções que no

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