Revista da Academia Paraense de Letras 1968

74 VICTOR TAME:R DESILUSÃO Nasce um amõr num terno e doce olhar, perfumando de rosas a alma inteira e na ilusão que tudo.faz pensar, a gente crê que a vida é bem fagueira. Cresce cada vêz mais e sem cessar, essa chama que empolga sem maneira e tal é a loucura de veijar, que a posse até parece brincadeira ! Como é linda a alvorada de um amor, que nos leva extasiados no delírio, na vertigem do sonho animador ! Mas também quanto sofre um coração, ao ver traçada a vida ein falso lírio, que esconde em seu odor - desilusão ! Afirma André Gide, em "Pretextes", que tõda a pessoa q·ue es– creve, está sujeita a uma influência orientadora. "Il n'est pas possible à l'homme de se soustraire aox influen– ces; l'homme fe plus préserve, le plus muré en sent encore". E aluz: "Os mestres que nos influenciam são aquêles diante de cujas obras sentimos como que vontade sincera de tê-las realizado ou como que uma certeza de que poderiamos, em outras condições, tê-las realizado. Uma espécie de parentes ricos que encontramos e que nos dão generosamente as mãos". Confesso agora, que a obra e o estilo de Humberto de Campos produziram na plasticidade do meu espírito então tateante, aquela proteção indispensável de quem os fala André Gide. Ao lêr, na época do seu aparecimento, o primeiro volume das "Memórias" do insígne escritor maranhense, onde a narrativa, sem afetação de roupagem, deslizava suave por entre a ironia e a tristeza - riso e lágrima da alma humana - senti na fácil comunicabilida– de do seu pensamento a lição que me faltava. Se o estilo é o homem, como define Taine, decalquei o meu, por afinidade de sentimento, na clareza e simplicidade com que Hum– berto de Campos empolgara a alma inteira do Bras11. Não sei se o estilo do mais lido cronista brasileiro na época chegou a fazer escola no país. ~le próprio teria firmado o seu na inspiração que lhe dera Anatole France, tal como Eça de Queiroz

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