Revista da Academia Paraense de Letras 1968

o DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA 73 seria, fatalmente, o de aceitar aquela corajosa indicação na conta de amável "plaisanterie". Por outro lado o eminente e saudoso professor Paulo Mara– nhão, de quem guardo momentos espirituais de inesquecível encan– tamento e a quem fiquei a dever a acollúda destacada que mereci de sua valente e querida "Folha do Norte", e-ainda Júlio Colares, o arguto filósofo das ribas paraoaras, que da sua tabaida convertida no seu honrado lar me enviava as suas cartas de estimulo e solida– riedade - um e outro - Paulo Maranhão e Júlio Colares, grandes na fôrça do espírito como na independência de opinião, ambos esta– vam concordes com a vontade de Ernesto Cruz e, fato sobremodo notável para mim, nenhum dos três amigos sabia, um do outro, da idêntica opinião qué os irmanava a meu respeito. Sem as glórias da Academia, bastar-me-ia, com efeito, à cari– cia da vaidade, se porventura me entregasse ao cultivo de tal senti– mento, a manifestação expontânea de tão marcantes expatmtes de três entre si o móvel comum de seus desejos. Mesmo assim, domina-me nêste momento o receio da usurpa– ção de um lugar imerecido, no meio de tanta gente ilustre que compõe esta augusta Casa. À tamanha honraria haverá mesmo da minha parte razão justificada de conquista ? É certo que dêsde a meninice uma natural tendência para es– crever me destacava dos garõtos da minha idade. Entre êles fui di· retor de uma revista manuscrita, que evoluiu pela aceitação popular até a fase vitoriosa do prelo, alusão há pouco feita pelo ilustre pro– fessõr Ernesto Cruz, que mais uma vez me honra ao receber-me nesta Casa, e foi, exatamente por essa época, que o diretor-proprie– tário do "Jornal de Cametá", órgão de opinião na minha terra natal, me surpreendeu vivamente, quando vindo a mim, formulóu pessoal· mente o convite para que eu passasse também a colaborar naquêle jornal de gente grande. A responsabilidade de escrever para o grande público, eu ainda imaturo para êsse cometimento, fez-me daquela redação uma nova escola de aprendizado, que me ia transmitindo, com o tempo, certa experiência nos comentários, muito embora continuasse sem orien– tação, quanto à maneira mais clara de ordenar o raciocínio no papel, quase sempre repositório de um amontoado de frases todas socadas num só período, pletora que deixava o possivel leitor um tanto con– fuso com tanta idéia junta para compreender. Sobreveio-me a fôrça da adolescência e com ela a fase inevi– tável da poesia. Lembro-me do primeiro sonêto que compus, publica– do no "Jornal de Cametá". Ei-lo: -

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