Revista da Academia Paraense de Letras 1968

70 VICTOR TAMER da sua luz. O contõrno dos caules se avivava, qual se fôssem colunas majestosas de um templo encantado e os tecidos das lianas floridas semelhavam soberbos cortinados ondulando ao sõpro ftesco d~s monções. O regato marulhava mesto e os pirilampos apagavam, tímidos, medrosos, as lanterninhas azuis. Ardente paixão dominava o bardo solitário. Mas a altiva Rainha das noites lá se ia pelo espaço, sem ligar ao bohêmio enamorado. Amava o seu canto inspirado e nada mais. O Jurutai entristereu. Entristeceu e desesperou. Desesperou e enlouqueceu de amor. Certa noite, quando a Lua entreabriu o postigo recatado na ra– maria espêssa, o louco precipitou-se no espaço; voou, voou, subindo pelo infinito azul e quanto mais subia, mais se afastava o objeto dos seus ternos amõres. Exausto de cansaço, rolou das nuvens e tombou sôbre a relva humidecida. O orvalho da noite banhou-lhe a cabeça esfogueada e a brisa refrescou-lhe o corpo enfebrecido. Quando acordou, o Sol estava a pino e a seu redor os pássaros da selva e as aves ribeirinhas o vigiavam silenciosos. Quis cantar e uma gargalhada louca ecoou pela floresta. :ir: por isso que, tôdas as noites, quando a Luz se levanta vaga– rosa, derramando sõbre a coma do arvoredo os ráios de sua luz morna e suave no mais alto rebento da cupiuba altiva o Jurutai se empoleira e solta pelo espaço a gargalhada sonora do seu canto de louco". O HOMEM Nasceu o professôr Coutinho de Oliveira a 9 de outubro de 1887, sendo seus pais o professôr José Marcelino de Oliveira e a pro– fessôra Tereza Coutinho de Oliveirà. Fêz o curso primário em Ana– nindeua, depois em Belém. Em 1905 seguiu para o Rio de Janeiro a fim de matricular-se na Escola Politécnica, a qual cursou até o ano de 1911. Em seguida regressou a Belém, embarcando logo depois para os Estados Unidos onde, pelo tempo de dois anos em que lá estêve, fêz os cursos de Estatística e Atuária. O PROFESSOR De Coutinho de Oliveira pode-se dizer que foi, por· natureza medular, um autêntico professor. Vocação trazida do bêrço, essa