Revista da Academia Paraense de Letras 1968

o DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA 69 momentos de desencanto, pois que em ambas as contingências a fé inabalável continuava a mesma estrêla guia do seu destino. Desde cêdo, por amôr à terra-mãe, Coutinho de Olivéira tornou– se um enamorado dos mistérios da Amazônia. E de tal maneira a sua sensibilidade perscrutou as ·nossas lendas e crendices, concatenando– as com agudeza de observação através de trabalhos que lêra ou pelo esfôrço de colhê-las diretamente do seio do povo - que a sua contri– buição ao Folclore da Amazônia constitue hoje seguro roteiro para todos os estudiosoôs que são atraídos pelo fascfiiio bravio de com– preender esta incompreendida Amazônia ! A própria obra literária do último ocupante da cadeira n.º 15, tôda ela gira em tôrno do encantamento extraído da sabedoria popu– lar contida na delicadeza do nosso Folclore. A respeito do trabalho honesto tão ligado à essas pesquisas, eis o que Renato 'Almeida afir– mou da capacidade de Coutinho de Oliveira, ao prefaciar-lhe o livro intitulado "Folclore Amazônico": "Na minha estada em Belém, foi-me dado o prazer de conhecer alguns de seus mais ilustres folcloristas e etnólogos, dentre êles o professõr José Coutinho de Oliveira, a quem cometí a incumbência de organizar e dirigir a Comissão Paraense de Folclore. Abalisado linguista e estudioso do nosso Folclore, o profes• sôr José Coutinho de Oliveira vem de há muito coligindo lendas da Amazônia, recolhidas por outro ou por êle próprio. E agora as pu– blica dentro de judiciosa classificação". Mas escutemos a lenda do "JURUTAt", da coletânea "Folclore Amazônico", verdadeiro primor de delicadeza na sua forma român– tica e em cujo conteúdo paisagista, Coutinho de- Oliveira identifica tõda a expressão do seu talento amazônida: O JURUTAt A quem já fruiu as delícias de uma noite de luar, na soledade de um sitio calmo das matas amazônicas, não é, por certo, estranho o canto sonoro do Juruta[. Quando a lua se levanta vagarosa, derramando sôbre a coma do arvoredo os raios de sua luz morna e suave no mais alto rebento da cupiuba altiva o Jurutai se empoleira e solta pelo espaço a gar– galhada sonora do seu canto. É o bohêmio incorrigivel da floresta, que lhe perturba a placi– dez do sono com a loucura de um amor imperecível. Tõda a noite em que descantava, poeta solitário, às margens de um regato sussurrante na ramaria espêssa a Lua abria um postigo recatado para ouvi-lo e sôbre o bardo derramava a morna claridade

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