Revista da Academia Paraense de Letras 1968

8 D. ALBERTO RAMOS seio de honrarmos, mais e mais, a memória do nome excelso que enobrece a cátedra que nos foi oferecida : Dom ANTONIO DE MA– c:eno COSTA. Afastado dos meandros da literatura ou da literatíce, não des– curamos, tanto quanto possível, a linguagem escorreita e a salvaguar– da do patrimônio vemacular, muito embora saibamos que "não hou– ve nunca, não há, não haverá jamais escritor perfeito", como dizia o grande filólogo João Leda. "Será isto um lugar comum, sem embargo de exprimir uma imensa verdade. Nenhum clássico propugnou tanto como Castilho a pureza do nosso idioma, nem apaleou com mais alma os francelhos que tentaram totalmente abastardá-lo. . . Pois êsse mes– mo Castilho, com o seu admirável bom senso e sutil argúcia espiri– tual, mensurou a extensão do perigo que se deparava. à língua. com a obsessão da periergia e com prudência e bondade aconselhou o fu– gir a êsse escolho funesto : "O exclusivismo de nacionalidade em Lín– gua, o puritanismo, a vernaculidade escrupulosa e ciumenta, deverão ser enjeitados, por quimeras, por sonhos de estacionários ou retró– grados, e atentados contra o Progresso. ("Telas Literárias", II, 107) apud "Nossa Língua e seus soberanos". João Leda, Manaus, 1928, P. 67/ 68). Pedimos vênia, confrades egrégios, ao ascender a. esta tribuna, para pronunciarmos reverentemente os nomes dos. mestres que acen– deram em nosso espírito a centelha do amor incontido à "última flõr do Lácio, inculta e bela". No então Ginásio Pais de Carvalho encon– tramos Sílvio Nascimento, Temistocles Santana. Marques e Arnaldo Lõbo. Transferindo-nos para o Colégio N. S. de Nazaré, tivemos a fe– licidade de colhêr os ensinamentos de dois mestres consumados : Te– mistocles de Araújo e Irmão Bernardo de Aguiar. No Seminário da Prainha, em Fortaleza, cimélios inúmeros de literatura nos foram desvendados e diretrizes preciosas nos foram concedidas por monse– nhor Otávio de Castro e padre dr. Josefina Cabral. Fôrça é confessar que já traziamas do lar paterno o incentivo ao saber, pois de nosso pai, modesto comerciante lusitano, nos habi– tuáramos a ouvir, vêzes sem conta, citações de Camilo e Herculano, Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. Vivera, na praça de Belém, aquê– le tempo de comerciário humilde, tão bem descrito por Humberto de Campos, em que os patrões somente concediam folga aos caixeiros, ds quinze em quinze dias. Era, à luz bruxoleante de lamparinas, e deitado sôbre sacas de arroz ou de feijão, que nosso genitor, como Ferreira de Castro ou Serafim Leite, conseguia ler tôdas as obras dos românticos portuguêses, que êle ia buscar à biblioteca. do Grêmio Literário e Comercial Português, associação que mais tarde veio a presidir.

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