Revista da Academia Paraense de Letras 1968

.. •• SAUDAÇÃO AO ACAD~MICO OTÁVIO MENDONÇA 63 literatura, que domina com perfeição a língua e dela tira, como de instrumento plástico e dócil à sua vontade, todos os efeitos que procura. No que diz e no que escreve. há mais de que sonoridade e pujança de estilo. Há conteúdo, há mensagem, que a excepcional riqueza vocabular torna mais bela. Max Eastman, num lúcido ensaio sôbre oratória, assim se ex– pressa : "Hoje, raramente damos a um homem o epíteto de orador e, se rendemos homenagem a Demóstenes e a Cícero, por outro lado nada nos deterá se soubermos que vai ser proferido um discurso : procuraremos logo a saída mais à mão e, se pudermos, chegaremos até a correr". O nôvo acadêmico, que recebemos nesta noite de novembro, é um restaurador do prestígio da oratória, abalado pelos fazedores de discursos, em quantas salas oficiais há por aí. De Winston Chur– chill dizem os biógrafos que, ao preparar um discurso, mandava prévias cópias à imprensa, para a divulgação . Nelas, prevendo os efeitos que tiraria do auditório, escrevia confiante, após certos pe– ríodos mais enfáticos: (Palmas)... Otávio Mendonça poderia fazer o mesmo, se escrevesse seus discursos, mas acontece que passou duas décadas a proferir notáveis orações, sôbre os mais variados assuntos, e deixou, perdulàriamente, que os efeitos maravilhosos de suas palavras se confinassem àquêles que o ouviram. Hoje, por fôrça da praxe, terá de ler um discurso acadêmico. E é possível que, mesmo disfarçadamente, a exemplo da convicção de Churchill, êle tenha escrito a palavra "Aplausos", depois de um período arre batador. .. A presença de Otávio Mendonça, na qualidade preponderante de orador, nesta Casa, muito a enriquece. É, até mesmo, uma sin gular coincidência com o critério de escolha que acaba de marcar, na Academia Brasileira de Letras, a preferência de um orador e con– ferencista, apenas orador e conferencista - Deolindo Couto -, a quantos escritores de vários livros publicados, com êle concorreram à vaga . Senhores Acadêmicos ! Senta conosco, pois, na poltrona que lhe cabe de direito e que lhe destinamos de Justiça, um dos mais notáveis cultores da eloquên– cia genuína, dom e arte que consagraram Rui como o maior talento verbal jamais aparecido em terras de fala portuguêsa !

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