Revista da Academia Paraense de Letras 1968

SAUDAÇÃO AO ACADEMICO OTÁVIO MENDONÇA 61 Descrevendo o ajuntamento que saía à liça, Otávio disse que nêle se encontravam "veteranos de campanhas parecidas e batalhado– res que esgrimem pela primeira vez". l!:le figurava entre os últimos, os neófitos, os que nunca antes haviam empunhado a lança e mon– tado no seu Rocinante. Justificava-se e aos outros: "Precisamos rea– bilitar a palavra política. Nenhum substantivo jamais foi tão inju– riado. Valiosíssimos setores de nosso povo tornaram-se hostis à simples idéia do político. Configuram-no um malabarista do poder, hábil em mi~tificar. . . Fraude, coação e suborno são os seus esteios, no bojo dos quais os ódios, como os afetos, inflam ou se esvaziam ao encanto do último câmbio eleitoral". Mais feliz que Diógenes em sua busca pela Verdade, Otávio achou políticos inatacáveis. E descreveu-os assim: "Há, houve e haverá, entretanto, sempre outra espécie de política : a do trabalho minucioso e incorruptível, no aperfeiçoamento da convivên~ia. A do apagamento gradativo, legal e pacifico dos desnivelamentos sociais. A da preocupação sincera e antidemagógica, com a felicidade do povo. Política pela qual se abandona o repouso, em verdadeiro ho– locausto administrativo. No torvelinho do qual os bens herdados ou adquiridos anterior e normalmente flutuam na maré desenfreada dos vitupérios. Conhecemos homens que se têm empobrecido ao invés de enricarem ao calor do dinheiro público. E alguns até, cujos casos de família, por mais dolorosos, foram cruamente, sàdicamente es– postejados". A experiência de Otávio; nêsse campo, não passou de uma in– cursão com objetivos nada profundos. Talvez êle mesmo, na dura experiência da vida, ao embate das surprêsas e dos desencantos, já não encontrasse hoje, tão facilmente, argumentos para afirmar a exis– tência dessa política de Catões e de Bayards, onde a regra é Catilina e é Fouchê, e na qual ninguém mais seria néscio ao ponto de nela envolver-se para perder os bens ou permanecer pobre, quando vito– rioso. Talvez por isso, Otávio Mendonça, um de nossos maiores ora– dores (condição excelente para o exercício eia política), mestre res– peitado de várias gerações, cultura que todos reconhecemos como das mais sólidas e filho de político, parece ter preferido ao "holocausto administrativo" o repouso de que falou aos vinte e sete anos, repouso que hoje diríamos higiênico ... O discurso e o manifesto, todavia, mostram como a vida, que antes apagara o sonho diplomático, afasta-o da política partidária, justamente a êle que tinha tõdas as condições para sobreexceder, na

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