Revista da Academia Paraense de Letras 1968

60 JARBAS G. PASSARINHO discretamente a Pátria, sem arroubos nem alardes, mas também sem lacunas nem traições". EXPERU:NCIA DE VIDA P-OBLICA - O M. R. D. A guerra acabada, Otávio retorna à vida civil. Tem pressa de afirmar-se e de vencer, mas prescinde de ajudas. Podendo fàcilmen• te dermanecer em Belém, o calor das influências paternas, engaja no grupo pioneiro de Janary Nunes, no Amapá. Organiza a Educação . Duas vêzes a malária o derruba. Quando volta ao Pará, o governa• dor do Território publica um elogio, que é bem um atestado do va· lor dêsse moço bacharel que pouco passou dos vinte anos e já se destaca entre os valores da terra paraense . A passagem de Otávio pela administração pública, numa terra em que todo doutor talentoso usa fazê-lo como regra, foi apenas episódica e breve. Até porque a política partidária parece tê-lo es• pantado. Figura entre aquêles a quem se acusa de omissão, mas que em verdade têm inclinação, até mesmo vocação para a política, mas não podem vencer a repugnância que lhes inspiram os métodos vigentes no Brasil, para praticá-la e nela vencer. Ocasião houve em que vencendo a repulsão, aproximou-se do campo político, pôsto que não do partidário . Foi quando, na com• panhia de outros moços, lançou as bases do "Movimento de Resis• tência Democrática". Alguma coisa de verdadeiramente original no Pará. Um grupo de homens responsáveis, onde predominavam os médicos, aturdidos e revoltados com a crua miséria que testemunha• vam por fôrça da profissão. Todos êlcs, com enorme dose de altruis– mo, dispostos a mudar, a renovar, a corrigir os vicias da sociedade marcada pelo desnivelamento brutal entre a imensa dos pobres e a reduzida minoria de ricos. Foi, acima de tudo, uma bela declaração de intenções, que começou por um manifesto e por um discurso, no Teatro da Paz. O discurso, fê-lo Otávio, que a "Fôlha do Norte" no• ticiava ser "jovem e já consagrado advogado em nosso fôro, profes– sor da Faculdade de Direito". 11:sse "jovem e consagrado advogado" tinha menos de 27 anos, muita leitura, uma ponta de erudição e su– ficiente envelhecimento no contacto com_os homens, para assim diag– nosticar os nossos males : . . . a todos a crise envolve, como um cipó sinistro . Uma crise mais alarmante cada nôvo dia, porque, submer– gindo um por um dos aspectos econômicos, passou, pouco a pouco, aos aspectos morais. A tal ponto que hoje a maior crise já não é de produção : é de caráter".

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