Revista da Academia Paraense de Letras 1968

t. SAUDAÇÃO AO ACAD~MICO OTÁVIO MENDONÇA 57 - "Irmão, tu já és vice-presidente . Deixa-me liderar a bancaâa . Voto em mim mesmo". E nós nunca nos decepcionamos com o nosso líder. Ao con– trário, vagando a Presidência do Diretório as duas facções em luta irredutível, Otávio reuniu-nos em sua cas~, para um almõço . Em frente a cada prato, o nome de um de nós . A mesa, presidida por êle, veio uma danada vontade de reconciliação . Ritacínib saudou seus adversários, sem esquecer uma palavra especial para a iniciativa de Otávio. Coube-me corresponder a nobreza "vermelha", pois o in– tegralismo de Irandir não o deixava fazê-lo. Alí mesmo, combinamos a única saída honrosa para a luta : Otávio seria eleito por unanimi– àade Presidente do Diretório, preenchendo a vaga de um êmulo de Jãnio, que renunciara ao mandato, não se sabe por quê. O PROVINCIANO VENC'.E NA CORTE Em 1936, Otávio rumou para o Rio. O pai, deputado federal, queria o filho, que êle adivinhava promissor e sabia talentoso, com– pletando os estudos de humanidades no Rio . Matriculou-o no "Pe– dro II". Fomos deixá-lo a bordo. Um aoraço silencioso . Um em· baraço na voz. Até mesmo uma lágrima teimosa, quando o "Ita" soltou aos ares o silvo de seus três apitos cortantes, dizendo adeus • Do Rio, chegavam-nos cartas repassadas de sofrimento . Era Otávio que se queixava (cuido agora que mais literária que sentida– mente . .. ) do "exflio". Sem dúvida, devia custar-lhe muito o apar– tar-se de um convívio de cinco anos e cair de súbito numa pequena sociedade inteiramente nova, como a do velho ginásio "Pedro II" · O estilo epistolar de Otávio já denotava excepcional maturidade . Ler-lhe as cartas era um deleite. Para cada um de nós, reservava um apelido carinhoso . Eu era o "Bereba", porque, nunca o soube, nem pude jamais atinar . . . ~le falava do choque que tivera ao ver as salas de aula os autores dos livros em que estudávamos em Be· Iém. Jonatas Serrano, Antenor Nascentes, Oiticica, Delgado de Car– valho, Raja Gabaglia, Cécil Thiré, Waldemiro Potsch . Exagerava nas dificuldades que encontrava para ambientar-se. Recorria, constan– temente, à imagem do menino de província, timido e esmagado pela metrópole. Morava na rua Redentor e falava das praias alviniten– tes e lindas do Rio mas desertas pelo frio cortante de junho em Ipanema. Isso nos punha água na bôca, aqui em Belém e nos incendiava os corações, todos nós querendo imitar Otávio, sofrer "exílio" igual,

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