Revista da Academia Paraense de Letras 1968

56 JARBAS G. PASSARINHO Gabinete Literário, achava que se tratava de plágio é que considerava os trabalhos muito bons. E consolamo-nos mutuamente. Mas não tivemos coragem para fazer outra edição. O manuscrito, com todo o seu nome empolado, morreu no primeiro e único número e o jor– nalismo pátrio não há de ter perdido grande coisa por isso. LETRAS E POLtTICA ESTUDANTIL Aliás, Otávio parecia perseguido pelos nomes luminosos. Se em Cametá fundou o "Revérbero", em Belém criou a "A Luz", pe– riódico escolar que, pela primeira vez, viu composto em letra de fôrma sua nascente obra literária. Não lhe faltavam vocação e ap– tidão para as letras. Certa vez num intervalo de estudo na São Je– rônimo, êle se pôs a ler, para que eu escutasse, um trecho de _Papini. Estava empolgado com o genial escritor. Lia "Palavras de Sangue" e já com essa dicção cristalina e sonoridade verbal que o fazem um dos maiores conferencistas brasileiros. Súbito, conquanto não per– desse o ritmo nem vacilasse, desconfiei de que Otávio estava impro– visando. Corri a êle, arrebat~i-lhe o livro das mãos e verifiquei que, havia um bom par de minutos, Otávio Mendonça colaborava com Giovani Papini, improvisando frases inteiras, sem perda do brilho e da beleza da forma. Tímido, um tanto arredio, parecia um Mendonça às avessas, pois todos êles ganharam fama de extrovertidos e atirados. Otávio não disputava as eleições para o Diretório. Vivia algo distante da massa dos colegas. Mas nós fomos bucá-lo, por eleição indireta, para ocupar a vaga de um companheiro que perdera o mandato, graças ao crônico desinterêsse dos democratas brasileiros, por qual– quer tipo de esfôrço em favor da coletividade. Vivíamos sob enorme tensão, talvez comparável à dos dias atuais. Entre nós se cultivava, ardentemente, uma falsa opção entre comunismo e integralismo. De um lado, estava Irandir Marinho Simas, tão prematuramente desa– parecido. Inquieto, polêmico ,apaixonado. De outro, Ritacinio Pe– reira, mais velho do que nós, sizudo, circunspecto, impondo respeito e pânico ao falar-nos de um mundo nôvo, que nos parecia simples– mente fantástico, um mundo sem pátria, onde não haveria lugar para a Democracia. Otávio, mal assumiu sua cadeira de representante do 5.º ano, disputou a eleição de líder ãa bancada comigo. Fomos os dois últi– mos a votar. Eu tinha um voto mais que êle. Votei nêle. Otávio, com a mais doce das naturalidade3, disse qualquer coisa assim :

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