Revista da Academia Paraense de Letras 1968

'1 SAUDAÇÃO AO ACAD~MICO OTÁVIO MENDONÇA porà riamente, a reparar a usina de luz. Nela, e no vale do baixo Tocantins, localizavam-se as raízes dos Mendonças . Tudo era deslumbramento para os meus olhos, famintos de paisagem rural. As pequenas matarias, balouçando nas águas vo– lumosas do rio, despertavam não sei que feitiço na minha alma e me comunicavam, a um tempo, como ainda agora, encantamento e nostalgia. Os banhos, em bandos alegres e tumultuosos, tomávamo– los no trapiche dos Parijós, esquecidos das divergências políticas entre êles e os Mendonça. Nas fes tas, ao som da banda "Euterpe", disputávamos as mocinhas da cidade, sôfregos por uma preferência e perdidos do mêdo de uma rejeição, que nos abalaria o prestigio de rapazes da capital ! Sem dúvida, Cametá significa muito para mim, que sempre vi· vera em Belém e cujas incursões mais audaciosas fimitavam-se ao igarapé de Apeú, em acampamento escoteiro . A bela e tranquila Cametá, para os meus treze anos, foi o comêço da revelação do mundo . Mas um mundo todo feito de arreba tamento, de que me fi. caram poderosas recordações. A primeira namoradinha, uma Aurea de França, que cêdo morreu. A alegria e o orgulho de já saber na• dar e vencer galhardamente a distância do trapiche à montaria fun· cleada . As festas, incluindo o primeiro carnaval no bloco dos "Ca• chimbinhos", comandados por Elias Alves, também nosso condiscí– pulo de Ginásio . As leituras no Gabinete Literário onde penetrá· vamos pelos fundos e nos deliciávamos com Alexandre Dumas, Al– fonse Daudet e Anatole . Dos brasileiros, ávidos de leitura forte, mergulhamos em José de Albuquerque, cujos livros científicos e edu· cativos povoaram de mêdo os nossos impulsos do sexo . Na usina de luz, que não funcionava durante as horas do dia, 1euni-me a Otávio e fundamos um jornal. Manuscrito. Otávio ba· tizou-o com o nome pomposo de "Revérbero" e escreveu o artigo de fundo. Eu criei um apólogo . A indefectível seção cômica, lembra– me b em que tinha uma velha anedota ousada, na qual a professõra, depois de definir subs tantivo como aquêle que existe mas não se vê. pede a um aluno que exemplifique, ao que êle prontamente respon• de : "as roupas intimas da professôra". Foi o ponto alto do jornal, para os leitores. O "Revérbero" criou um problema de consciência . É que Nel· son Parijós, lendo-o, duvidou de que o artigo de fundo e o apólogo iõssem de nossa autoria . Rindo-se, irredutível diante de nossa in– sistência, perguntou de onde havíamos copiado os trabalhos . Meço pela minha a decepção de Otávio, mas no intimo estávamos radian• tes, pois se Nelson Parijós, um dos mais categorizados membros do

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