Revista da Academia Paraense de Letras 1968

PRESErNÇA DA LITERATURA 49 O crítico e escritor AFRANIO COUTINHO, no livro "Da Crítica e. da Nova Crítica", manifesta sua condenação à orientação do en– sino da literatura em nível secundário, e diz dela que é ". . . orientação errônea em virtude da subordi– nação do interêsse literário, do ensino da literatura às finalidades do ensino do vernáculo, dado que a matéria literária é fundida no ensino de linguagem, o que a torna subsidiária do mesmo. No entanto, há wn interêsse especificamente literário no ensino da literatura, que, muito embora partindo da linguagem, do seu ensino se afasta para tratar, com métodos próprios, de matéria específica" (2). Mais adiante, inclui AFRANIO COUTINHO em sua condenação o próprio currículo dos cursos superiores de Letras, que não s~o mais que ginásios pouco menos inoperantes, nos quais se encontram quase sempre os mesmos equivocos, o mesmo espírito e os mesmos métodos, permanecendo o ensino da literatura com seu cunho his– toricista. A primeira campanha a desencadear contra essa estéril inte– lectualização da literatura, reduzida a uma liist6ria a memorizar, é a educação dos padrões afetivos e sentimentais dos alunos. Denunciando a lastimável prevalência que se tem dado à estru– tura conceitua!, em detrimento da afetiva, nos estudos linguisticos, o Professor VICENTE GARCIA DE DIEGO, em interessante trabalho que abre seu livro "Lecciones de Linguística Espaíiola", chama a atenção para o fato de que a realidade do homem é inteiramente di· versa. Somos sêres mais afetivos que intelectuais, e se tivéssemos empregado, até agora, maior empenho em cultivar nossa estrutura afetiva, é certo que seríamos menos vítimas de nossos instintos e paixões. Diz o Professor DIEGO que o homem inibe sua emoção, pensando que o feito de maior prestãncia é ser inteligente e, por con– seguinte, manifesta constrangimento e vergonha em mostrar-se apai– xonado. No entanto, a paixão é o motor de tôda ação vital, incluin– do a da inteligência, e seria temerário educar esta sem o prévio cul– tivo daquela. E afirma : "En la literatura entera, los valores estéticos son antes que las mismas ideas . No sólo en la poesia, la belleza y la emoción puedem sublimar las obras de medíocre valor conceptual, sino que en toda obra li– teraria lo de más es su valor estético y emocio– nal# (3).

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