Revista da Academia Paraense de Letras 1968

48 · ÁPIO CAMPOS· remotas civilizações cósmicas, - a maioria dos sêres humanos não consegue sequer decifrar os sinais enigmáticos das letras impressas, que velam o espírito e a cultura da própria civilização humana . Chega-se quase a concluir que a fabulosa fortuna gasta nesse requin– tado progresso científico é dinheiro mal empregado, diante da mi• séria intelectual que brada em redor. Remover a ignorância coletiva não é apenas serviço em prol da literatura, - é obra de sadio nacionalismo e de elevàdo huma– nismo, em todos os sentidos, pois no analfabetismo se condensam e unificam os empeços preliminares de tôdas as tentativas de liber– tação mental de um povo. 2. Escolarização da Literatura É nas escolas, principalmente de nível médio, que se há-de empreender uma eficiente campanha no sentido de criar, no homem normal de amanhã, a consciência da profundidade e do alcance da literatura, na vida e na história de uma nação. Têm, lamentàvelmente, os programas de ensino uma orienta– ção excessivamente pragmática a serviço dos objetivos teorizantes dos currículos. Quem os fêz partiu do pressuposto de que a melhor definição do bom aluno é que êle é - um ser que sabe uma porção de coisas, e nada mais. Essa preocupação de doses maciças de co– nhecimentos teóricos esguichadas sôbre a inteligência em formação prejudica as ciências em geral e compromete, não raro, promisso– ras vocações para determinados ramos do saber. A literatura, por exemplo, é transformada em história, isto é, nomes e datas e obras; e se é louvável o esfôrço da didática mo– derna em pretender ligar tais conhecimentos com a vida cotidiana do aluno, é igualmente irrecusável que a maioria dos professõres se atém estritamente à orientação de seus programas. Ao fim do curso, pensa o aluno que a literatura é apenas uma ilustração do espírito, uma soma a mais de conhecimentos inúteis, ou quase, - matéria decorativa a estudar. Os raros e frágeis apelos que terá feito em classe o professor, para que os alunos leiam os autores estudados, não podem encontrar eco em quem não foi pre– parado por nenhum critério seletivo, por nenhuma iniciação crítica, por nenhum aprendizado de análise de texto, por nenhum aprimo– ramento do bom gôsto. Formamos, em nossas aulas, pessoas ca– pazes de dissertar com brilhantismo - quando muito - e por vá– rias horas sôbre autores que nunca leram, que não lerão jamais, e que nenhuma mensagem humana trouxeram para suas vidas.

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