Revista da Academia Paraense de Letras 1968

Presença da Literatura APIO CAMPOS 1. Importância do Leitor Quando julgamos ou analisamos o complexo problema que é o alheamento em que vivem reciprocamente escritores e público, deve– mos forçosamente reconhecer que há, de .parte a parte, graves res– ponsabilidades que precisam ser levadas em conta numa possível busca de solução. O escritor escreve para ser lido - para o público, portanto - e se o público se distancia dêle, então é certo que l tarefa do escri– tor ficou mutilada e não atingiu o seu definitivo acabamento. Não se trata de aludir aqui às obras que ficaram sem leitores apenas ao tempo em que foram escritas, ou por representarem ante• cipação inacessível aos contemporâneos, ou por escritas em profun– didade só reservada a raras elites. São casos esporádicos e não po• dem ser tomados como tipos a representar a média da conceituação de literatura. A verdadeira literatura é aquela que é lida - porque literatura é diálogo, é vivência humana, e a literaturã, como as demais artes, tem posição relevante dentro da temática do Tempo e na dialética da História. É certo que Mallarmé afirmou que "o poema não exige apro– ximação com o leitor", mas êsse é o ponto de vista do poeta puro, cuja vivência poética se confunde, de alguma sorte, com uma auto– divinização, tornando-se o poeta um semi-deus, solitário e contempla– tivo no centro de seu mundo, gerado por e para êle, em função de pura e plena auto-satisfação . Há ressaibos de orgulhoso egoísmo nessa recusa da dialogação com o homem que leva o poeta a refugiar– se na satisfação narcisista de criar só para si mesmo, sem precisar de ninguém. O diálogo implica considerável dosagem de humildade, pois criar para alguém é prestar serviço, e tornar-se servo é maneira sutil mas eficaz de cumprir o mandamento da caridade e confirmar o dito evangélico de que é melhor dar que receber.

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