Revista da Academia Paraense de Letras 1968

32 SlLVIO MEIRA que O Cristianismo se resume em uma palavra - Fraternidade. Sabia que O Evangelho é um protesto, ditado por Deus para os séculos, contra as vãs distinções que a fôrça e o orgulho radicaram neste mundo de lôdo, de opressão e de sangue : sabia que a única nobreza é a dos corações e dos entendimentos que buscam erguer-se para as alturas do Céu, mas que essa superioridade real é exteriormente hu– milde e singela". O próprio romancista salienta ser difícil a reconstituição da vida íntima dos gôdos. "As portas das habitações dos cidadãos cer– ram-nas os sete sêlos do Apocalipse : são a campa da família". Por isso foi Herculano buscar em Lorvão o ar propício às suas inspirações criadoras . Um local tradicionalmente religioso, sede de antigo e famoso mosteiro, cercado de população pacífica e afável, era necessário a tão alto empreendimento. Nessa gleba de Lorvão se entroncam as raízes históricas das familias Ramos e Mortágua.. É bem possível que corra nas veias de nosso homenageado o sangue gôdo, evidente no tipo físico e no porte altivo e nobre, quase marcial. Se é verdade, como àizia Platão, que a educação da criança se inicia cem anos antes de seu nascimento, no complexo de influên– cias físicas e espirituais que lhe legam os seus antepassados, há que estudar, para bem conhecer o homem, as suas ancestralidades, a gleba de que provém a sua genealogia, os fatôres sociais e humanos que concorreram para a sua formação, o meio, em suma. O avô materno de D. Alberto, Bernardo Pereira, descendia da familia dos Pereira de Cantudo, quinta abastada da região do Douro; Lamego . Sua avó, Maria Valente Martins de Abreu, era de origem aristocrática, da família dos Condes de Avanca, Estarreja, terra em que também nasceu dom Frei Caetano Brandão. Dêsses antepassados lhe vem, talvez, a predisposição à vocação sacerdotal. Bernardo Pereira, comerciante, que por alguns anos vi– veu e trabalhou no Pará, foi homem profundamente religioso . Integrou a Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Pe– nitência . Regressando a Portugal estabeleceu-se em Espinho, onde teve atuação brilhante, principalmente ao lado dos eclesiásticos du– rante a proclamação da República. Por seu temperamento brando e conciliador angariou alto conceito, exercendo, por algum tempo, o cargo de Juiz de Paz da localidade. Seu pai, Manoel Gaudêncio Ramos, seguindo o mesmo destino de milhares de lusitanos no fim do século passado e inicio dêste, o

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