Revista da Academia Paraense de Letras 1968

' 30 · SILVIO MEIRA Mirrado fumo espreita à flôr do chão (Ci11ze11to como u11s restos de coivara) Alguma nuvem pardace11ta e rara Que vaga, à toa, ao longe, na amplidão. O sC'rta11ejo assoma a porta, e espia A terra em brasa, estlÍpida, vazia Até de uma esperança! Hora funesta! . . . Toma da enxada e vai jogá-la a um canto, M11rmura11do baixinho. . . - No cntreta11to, "A te-rra é boa, o céu é que não presta". (Cânticos de Fé) Há nêsse soneto todo um grito de desespêro de milhares de brasileiros que sofrem o problema da terra escaldante e que vivem a olhar para o alto à espera das águas que descem do céu. Essa sensibilidade pelo drama do homem nordestino que ex– surge dêsse poema de D. Alvaro, existe também, quanto ao homem da Amazônia, na obra piedosa de D. Alberto Gaudêncio Ramos . Ambos se deixaram tocar do sentimento de solidariedade hu– mana e cristã pelos seus concidadãos sofredores. A preparação para o sacerdôcio é antes de tudo uma prepara– ção para a atividade intelectual : a vida insulada, a meditação, os altos estudos, são fatõres que concorrem para a formação de sábios e de santos, de que está repleta a história da humanidade . O HOMEM Alb~rto Gaudêncio Ramos nasceu no dia 30 de março de 1915, nesta cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, num prédio ~ rua dos Mundurucús, entre as travessas Apinagés e Tupinam– bás, no aprazível bairro de Batista Campos . Apesar de nascido em rua que ostenta um nome indigena - Mundurucús - num bairro todo êle impregnado de brasilidade, em que quase tõdas as traves– sas lembram tribos ameríndias : (Tupinambás, Jurunas, Tamoios, Apinagés) suas origens são puramente lusitanas, filho de Manuel Gaudêncro Ramos e Aurora de Abreu Pereira Ramos, aqui presente, que veio assistir a mais esta consagraçã<? de seu ilustre filho. É neto de Antônio Gaudêncio Ramos, mais conhecido por Antônio Mortá– gu a, por ser descendente da Casa de Mortágua, na região de Coim– bra, Portugal, e de Maria da Esperança Fonseca. Seus pais nasce-

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