Revista da Academia Paraense de Letras 1968
28 SlLVIO MEIRA Estudaremos o Homem, em suas origens austeras e puras ; o Sacerdote, em sua missão útil e profícua; o Cultor de Letras, esclare– cido e erudito. Sob êsse tríplice aspecto surge a figura de um só . Não é pos– sível divorciar o cultor das letras do sacerdote, e ambos da figura humana, muito humana, e dos fatôres que concorreram para a for– mação da sua personalidade . Sua origem, os cursos que realizou, o seu carácter, a sua vocação permanente para o sacerdócio e a vida do espírito. E a obra que já realizou em pleno vigor da existência. Não é esta a primeira vez, nem há de ser. a última, em que se aliam na pessoa de um homem os dotes da religião e o das letras. Não há necessidade de procurar precedentes em terras estran– geiras . Numerosos exemplos existem em nosso País, onde avultam as figuras de Monte Alverne, orador sacro de grandes revérberos que mesmo depois de perder a luz dos olhos, ainda pregava, passados dezoito anos de silêncio, na festa de São Pedro de Alcântara, em 19 de outubro de 1854, exclamando : "É tarde ! É muito tarde ! . . . Se– ria impossível reconhecer um carro de triunfo neste púlpito, que há dezoito anos é para mim um pensamento sinistro, uma recordação aflitiva, um fantasma infenso e importuno, a pira em que arderam meus olhos, e cujos degráus desci só e silenciosamente para escon– der-me no retiro do claustro"; de D. Aquino Corrêa, bispo de Cuiabá e membro da Academia Brasileira de Letras, orador, escritor e poeta, ' autor entre outros, do soneto "A Alavanca de duro", que bem se ajusta, em suas conclusões, à personalidade de nosso homenageado : "Dizem q11e 011trorR, n11ma lavra funda Viu-se aqui, tôda de 011,0, uma alavanca; Todos a q11ercm, mas ninguém a arranca, E quanto mais se. cava m11is se afunda". Contudo cavam sempre. • . e a ganga imunda Que nessa escavação s-e desbarranca Vai dando ouro, muito ouro, e não estanca, Até q11e de ouro êsk arraial se inunda. Quanta sabedoria não encerra A lenda popular da minha terra, Que ao trabalho e à constância nos convida ! Y.rabalha I que o trabalho é o teu teso11ro, e serd ê/e essa "alavanca de ouro'' Que hd de elevar-te e enriquecer-te a vida ! "
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