Revista da Academia Paraense de Letras 1968

26 D. ALBERTO RAMOS tureza. Os deuses da mitologia são a personificação das fôrças do mundo. E os santuários que lhes foram erigidos são como um gesto de obediência à sugestão dos lugares onde êles ~e erguem". ("Eu– ropa e Europeus", p. 231). Ali, nos contrafortes do Parnasso, entre o cêrco de granito dos rochedos Fedríados, numa tarde emoldurada pelo sol do outono, à montante das águas azuladas e nostálgicas da baía de Itéa, em meio às ruínas do templo de Apolo, não ouvimos o oráculo de Delfos, nem mesmo percebemos o rumor das multidões que outrora ali vinham consultar a pitonisa, deixando apenas seus vestígios no desgaste dos velhos mármores d,o anfiteatro. A sombra enternecida de um arvore– do de fôlhas variegadas, descemos a contemplar a fonte de Castálla. Para nossos companheiros eventuais de excursão, todos turis– tas dolicocéfalos, era apenas pretexto para mais algumas pôses fo– tográficas. Fomos o único do grupo, a nos curvarmos para colhêr no côncavo das mãos aquela água cristalina e ·•fria e levá-la aos lá– bios sequiosos. Teria aquela água o dom da inspiração que lhe atribuíam os Romanos? Bem vêdes que não ... pois, nestas palavras está a me– lhor prova de sua ineficiência. Nem mesmo a água de Castália, borbulhante, no país encan– tado das Musas, conseguiu superar a modéstia de nossos méritos, que sbmente a suprema magnanimidade de Sílvio Meira soube real– çar e amplificar. Senhores meus. Eis-nos aqui, já com os lábios ressequidos, ao fim da viagem de reencontro. Nossas mãos, estão vazias ... nem, ao menos, conse, guiram guardar uma gotinha, uma lágrima sequer da fonte de Cas– tália ... ..,,,.

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