Revista da Academia Paraense de Letras 1968

A ORAÇÃO DE D. ALBERTO RAMOS 17 Pensava Eustáquio de Azevedo que "a teologia sucumbe, por– que o seu fundamento é o dogma, o imperscrutável, o que se não discute", ao passo que "a filosofia positiva, ao contr"ario, progride e ganha os espíritos, porque fala em nome do vigor científico e, ao mesmo tempo, em nome dos interêsses humanos, etc." (p. 160). Tateando na dúvida, sem chegar a definir-se, conclui Eustá– quío : "A quem dar crédito, se tanto uns como outros são sábios e discutem em nome da ciência ? "Finalmente (devs ser finalizamos), todavia, como começamos, fazendo nossa a frase de Musset dirigida a Byron e a Goethe : "Creio na esperança, bendigo e acredito em Deus!" (op. cit. 160). Autodidata, sem nunca ter saido do Pará, Eustáquío de Azeve• do adotou o pseudônimo de Jacques Rolla certamente em homena– gem a Musset, como, podemos deduzir de suas palavras, na página 67 de "Vindimas"; "Rolla é o melhor e o mais belo de seus poemas. Há nele estrofes admiráveis que a gente relê com prazer. Possuo uma fraca tradução dêle que, talvez, publique um dia, depois de li· má-Ia bem, apesar de Alvares de Azevedo ter feito, com brilhantismo, trabalho superior que publicou incompleto". Musset vive dentro em mim, como uma pérola finíssima numa concha grosseira" (op. cit. p. 68). No dizer de outro Jacques, o Jacques Flôres, membro dêste Silogeu, "foi, também, o escritor nascido no Pará de maior projeção nos centros culturais da Europa e das repúblicas platinas, tendo man– tido sempre animada correspondência com os intelectuais dali. "A sua vida de intrépido, persistente e inolvidável prócer das letras da Amazônia está, até hoje, à espera de quem, penetrando o alto sentido de sua obra opulenta, séria e honesta, se proponha a es– tudar e a descrever a luminosa personalidade de J. Eustáquio de Azevedo" (Panela de Barro, p. 152). Paulo de Oliveira, seu sucessor na mesma cátedra da Aca– demia, considerou-o o "Coelho Neto da Amazônia". Se de outros méritos não se revestisse, Jacques Rolla assegu– raria seu lugar ao sol no campo das letras amazônicas não só por haver militado valentemente na "Mina Literária", na Academia Pa– raense de Letras e na Associação dos Novos, mas porque foi o pri– meiro a tentar uma codificação da expressão cultural da hinterlân– dia, na sua "Antologia Paraense" (de que só editou o primeiro volu– me) e "Literatura Amazônica", muito embora contra êle se tenha erguído Osório Duque Estrada, o "demolidor" no seu livro de viagens '"O Norte", quando menoscab& os poetas paraenses: "Dos que o sr. Eustáquio de Azevedo pretendeu revelar na sua ANTOLOGIA PA-

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0